terça-feira, 15 de junho de 2010

Bastante coerente o discurso do superintendente do Sebrae/RN, José Ferreira de Melo Neto, na abertura da Expofruit 2010. Confira na íntegra.


É chegada a hora. Está aberta a Expofruit 2010. Em sua 15ª edição, a feira reúne produtores, exportadores e importadores, pesquisadores e estudantes, tantos e tantos mais envolvidos e interessados no grande negócio da fruticultura irrigada. Todos ansiosos por novidades, ávidos por conhecer técnicas inovadoras, desejosos de antever os caminhos da atividade.

Este grandioso evento de negócio tem inúmeros motivos para comemorações, conquistas a registrar e números favoráveis a divulgar. Deixo, porém, essa tarefa amena para outros que aqui falarão. Sem diminuir o brilho desse evento, ouso fazer reflexões que julgo pertinentes. Que valerão por um alerta, a luz vermelha que muda a direção e evita o desastre iminente. É nesse sentido que quero conduzir minhas palavras e fazer questionamentos.

A fruticultura, que em 2009 foi responsável por 45,9% do valor das exportações do Rio Grande do Norte, precisa abandonar o tom ufanista. Precisa se debruçar sobre questões cruciais, decisivas para o crescimento e a sustentabilidade da atividade. Precisamos - classe produtora, setor público e entidades envolvidas com a fruticultura potiguar -, reverter situações adversas e estabelecer patamares mais elevados que podemos e devemos alcançar para a atividade.

Aqui encontramos condições excelentes para a produção de frutas de qualidade excepcional. Não podemos, por comodismo ou omissão, desperdiçar oportunidades que podem ser passageiras e fugazes.

Precisamos, urgentemente, reverter a estatística do IBGE que registrou redução de 23,8% na área plantada com frutas, entre 2004 e 2008, período em que o volume da produção total também sofreu uma queda de 22,2%, no mercado interno e externo. Quero provocar a platéia tocando em quatro pontos cruciais.

a.    O primeiro deles é a tecnologia. É premente encontrarmos formas de inovar e incorporar tecnologia aos produtos e processos, em todas as etapas, seja na preparação da terra para o cultivo, seja na chegada do produto ao consumidor final, brasileiro ou estrangeiro.  O desafio da competitividade é crucial. Somente com aumento da produtividade será possível manter e ampliar a participação no mercado, nacional e mundial.

b.    O segundo ponto crucial é o mercado. As estratégias para sua prospecção e conquista devem considerar a minimização de riscos, principalmente em época de crise como a que recentemente atravessamos. A diversificação dos destinos, com a abertura de novas fronteiras, precisa ser uma atividade ininterrupta.

c.    A agregação de valor às nossas frutas é o terceiro ponto que consideramos relevante, principalmente por facilitar a comercialização da produção. É imprescindível trabalharmos para ir além da fruta in natura. Transformadas em polpas ou sucos, desidratadas, secas ou em pó, novos produtos podem ser oferecidos ao consumidor, ávido por facilidades. Para o produtor o atrativo é o preço, que pode ser aumentado até seis vezes. Novas espécies devem ser constantemente pesquisadas, ampliando o leque de opções.

  1. Produtividade e competitividade se unem e representam o último ponto que quero enfocar. A fruticultura deve ser gerida como um negócio, talvez mais frágil, certamente mais delicado. Envolvendo vida, tem estágios a cumprir e prazos inarredáveis. Custos precisam ser bem geridos e controlados. Precisamos conhecer a fundo a produtividade que a fruticultura potiguar está registrando e os níveis de competitividade alcançados em relação a outros Estados e países produtores.
  2.  
Todos esses questionamentos me dizem que é chegada a hora. De encontrar novos caminhos e descobrir soluções inovadoras. De unir esforços, de obter comprometimentos: do setor produtivo, do poder público e de todas as instituições que têm compromisso com o desenvolvimento do Rio Grande do Norte.

O empresariado sabe que, algumas vezes, tem sido passivo diante da crise. Ou tem aceitado sem questionamentos o fato de que a redução da produção pode ser compensada com o aumento do preço (em dólar) no mercado internacional. Por outro lado a variação cambial, em alguns períodos, tem sido argumento para reivindicações.

Mas o empresariado sabe, também, que pode inovar e oferecer produtos mais elaborados, que alcancem altos preços em mercados especializados. Sabe que deve investir mais em pesquisas, em controle de custos, em aperfeiçoamento da produção. É chegada a hora, pois, de enfrentar o desafio de implantar novas áreas de cultivo, investir em outras culturas ou outros processos que agreguem valor ao produto. Se o preço do melão exportado aumentou 16,5% entre 2003 e 2009, não há motivo para que a quantidade exportada tenha caído 29,0% no mesmo período. 

A provocação que faço diz respeito a dois fatores ligados diretamente, embora não exclusivamente, ao setor público. Eles respondem por expressiva parcela de perdas de produtos, de desperdícios que reduzem os resultados de um negócio e chegam a inviabilizá-lo. Eles podem levar produtores a transferirem suas empresas para território fora dos limites deste Estado.

a.    Infraestrutura é o primeiro deles. Sua disponibilidade reduz custos e, muitas vezes, é responsável pela viabilidade de um negócio. Energia, estradas, transporte e comunicações podem ter interferências das três esferas do poder público: federal, estadual e municipal.

  1. Incentivos fiscais é o segundo fator. O Estado pode atuar na desoneração tributária e na simplificação de procedimentos burocráticos. O cumprimento à Lei Kandir, com a restituição dos créditos de ICMS às empresas exportadoras, pode assegurar sua permanência neste Estado.

Sei que o Senhor Governador, de reconhecida sensibilidade à fruticultura e ao desenvolvimento, reconhece que é chegada a hora. Hora de evitarmos a fuga de empresas de fruticultura para Estados vizinhos, aonde elas recebem incentivos que não dispomos. Ao custo econômico, soma-se o inaceitável custo social da perda de empregos, sempre que um negócio é fechado.

Encerro minhas palavras dizendo que para o SEBRAE também é chegada a hora. De repensarmos nossas estratégias, para que possamos oferecer a grande parcela do empresariado condições para que obtenham certificações de seus produtos. Assim como o fizemos para o melão da Cooperativa de Pau Branco, podemos fazer muito mais.

Estamos dispostos a apoiar novos desafios. Seremos parceiros de cada produtor que assuma a responsabilidade de melhorar a qualidade do fruto produzido. Estaremos engajados em ações que elevem a rentabilidade dos negócios, que tornem a fruticultura uma opção de renda, trabalho e emprego para nós e nossos irmãos.

A vida, incorporada ao fruto, tornará melhor as nossas vidas.