quarta-feira, 14 de abril de 2010

A maior paRTE do artesanato em palha comercializado no Estado sai da Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero, em Juazeiro. Confira na reportagem de Elizângela Santos.

Artesãos unidos fazem arte da palha no Cariri



Juazeiro do Norte. A criatividade com o uso da palha tem sido, há muitos anos, o principal meio de sobrevivência de artesãos em Juazeiro. Do milho, carnaúba ou bananeira, o que fica para a maioria das pessoas como algo sem utilização se transforma em peças úteis nas mãos desses artistas, como bolsas, cestos, chapéus, jogos americanos e delicadas flores, entre uma infinidade de artigos.

Mas, atualmente, os jovens do Cariri não se interessam em manter a tradição em produzir artesanato a partir da palha. Mesmo assim, a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, reúne esses profissionais e continua a incentivar as atividades. Para isso, são promovidos cursos sobre novas formas de tintura da palha e novo design dos produtos.

Há três anos havia, na Rua do Horto, um dos principais focos dos artesão da palha em Juazeiro, pelo menos mil pessoas que teciam os fios secos para dar formas a chapéus usados pelos romeiros. Na sombra dos barracões de palha ou nas calçadas de casa, a rua antiga da subida do Horto do "Padim" demonstrava esse importante potencial.

A dona Tecla Cosma da Silva trabalha há cerca de três décadas com este tipo de artesanato. Um trabalho que deu prazer durante, praticamente, toda a sua vida. Ele é uma das mais antigas integrantes da associação e também uma forte incentivadora dos produtos feitos de palha. Já passou o seu ofício para vários jovens da região, que hoje fazem do artesanato um meio de sobrevivência.

As jovens da associação são testemunhas desse trabalho. Há alguns anos elas passaram a integrar a entidade. Nas paredes, de cima a baixo, estão pendurados artigos dos 30 integrantes da casa. Dona Tecla lembra dos tempos em que foi mais fácil se trabalhar com a palha.

Dificuldades

Até mesmo a matéria-prima, segundo a artesã, está em falta no mercado. Este ano, uma de suas grandes preocupações tem sido conseguir palha de milho, o seu principal artigo de trabalho. Para obter o material, dona Tecla precisa ir ao roçado. É necessária uma triagem do produto para não perder a viagem. Mas ela tem uma alternativa que a faz lembrar os pais na infância, com o uso da palha da bananeira.

Uma alternativa, mas que poderá não ter em grande quantidade. A pernambucana chegou ao Cariri ainda na infância. Passou a tecer os fios de palha e a criar novos modelos. Mostra suas bolsas em palhas de carnaúba com alegria de quem está começando a ver os primeiros resultados do seu trabalho.

Uma de suas grandes alegrias é poder passar o que sabe para os jovens, mas lamenta. O futuro deste tipo de atividade se mostra com a experiência de mais um dia, mais um ano, e vai levando da melhor forma.

Desde o início da luta pela Associação, dona Tecla lembra dos momentos de abertura de mercado para os produtos, com o esforço e importante apoio das irmãs Teresa Guimarães e Annete Dumoullin. Desde o sudeste do País, em cidades como São Paulo, à Europa, esse trabalho conseguiu abrir portas para os artesãos caririenses. No entanto, hoje, as encomendas não são tantas como antigamente, mas dá para sobreviver. Pelo menos é que o elas dizem.

CRISE: Entidade atua mesmo com redução de seus filiados

Juazeiro do Norte. Atualmente, a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero perdeu quase a metade dos seus filiados. Antes, eram 50. Agora, apenas 30 dão continuidade às atividades. O motivo para a queda foi a procura por outros trabalhos mais compensadores financeiramente. Mesmo assim, o presidente da Associação, Luciano Bezerra da Silva, afirma que a entidade tem atendido aos clientes sem muitas dificuldades. A maioria do grupo é formado por mulheres.

Atualmente, o principal mercado para o escoamento da produção tem sido o da Capital. Principalmente por meio da Ceart. Ele afirma que a produção de artesanato de palha em Juazeiro do Norte ainda é bastante significativa. Mesmo não estando concentrados no Horto, os artesãos se espalham nos bairros da cidade.

Nos municípios de Caririaçu, Assaré, Salitre, Crato e Jardim estão concentrados grupos de artesãos. Caso a produção necessite de implemento, esses artesãos são contatados. E isso faz com que o polo artesanal da palha do Cariri seja um dos mais importantes do Estado.

E os artesãos filiados à entidade ganham pela produção vendida. O local é a alternativa viável para ter um aproveitamento financeiro mais seguro do que se comercializa. As vendas estão mais focadas nos chapéus a artigos mais em conta, principalmente as bolsas. Mas a clientela em potencial é de fora. Os cartões natalinos, confeccionados em folha de bananeira, palha de banana ou milho e tecidos, passaram por um bom tempo a ser o carro-chefe de vendas.

Eram mais de 20 mil encomendas por ano, por entidades principalmente da França e da Holanda. Era parte do ano era dedicado à fabricação desse artigo. Boas mudanças e adequações nos produtos foram feitas na própria entidade.

Um curso destinado a uma tintura de melhor qualidade foi ministrado esta semana na entidade, em parceria com o Sebrae. Os artesãos se alegam com a possibilidade de cada vez mais poder sofisticar o produto. Um designer dará dicas importantes nos próximos dias.

Dedicação

Luciano dedicou mais da metade de sua vida ao artesanato de palha. Há 19 anos ele aprendeu os primeiros trançados e deu conta de que era sua vida que estava ali. E foi trabalhar com o incentivo das irmãs Annete Dumoulin e Teresa, idealizadoras da entidade juntamente com outras colaboradoras.

Ele agradece o importante apoio da Igreja em fornecer o prédio de abrigo para os artesãos da palha. Mas uma mostra de que os jovens não querem continuar a arte da palha é a quantidade de jovens que iniciam mas não concluem o curso ministrado pela artesã Tecla Cosma da Silva. Mesmo assim, ela tem a alegria em dar continuidade à sua profissão.

Elizângela Santos

Repórter

O professor Roberto Germano, diretor do Insa, proferiu a conferância de abertura da SBPC Regional de Mossoró. Confira na matéria publicada no site da SBPC.

Água não é a única solução para o semiárido


O desenvolvimento do semiárido brasileiro, região com quase 1 milhão de km2 na qual vivem cerca de 23 milhões de pessoas de nove estados brasileiros (metade delas na área rural), dependerá sobretudo de uma quebra de paradigma. Será preciso enterrar a idéia de que a região só avançará econômica e socialmente se dispuser de água em abundância. “Tão prejudicial como negar a miséria do semiárido é a idealização da irrigação em toda a região”, afirmou o diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Roberto Germano Costa, durante a conferência de abertura da Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN), proferida na noite desta terça-feira, 13.

Promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento está sendo realizado nas instalações da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). O objetivo é discutir, por meio de conferências e mesas-redondas, o desenvolvimento sustentável do semiárido. A Reunião será encerrada na tarde de sexta-feira, 16.

Na sua conferência, Germano Costa mostrou que apenas 2% das terras do semiárido são passíveis de receber sistemas de irrigação. Para agravar, os longos períodos de seca e a variabilidade das chuvas tendem a se intensificar com as mudanças climáticas. “Na região, 60% das chuvas ocorrem em apenas um mês, sendo que 30% em um só dia. Trata-se de uma dinâmica climática que ninguém conseguirá mudar”, frisou ele. Por isso, na sua avaliação, é necessário acabar com a visão de que a água é a única solução para os problemas do semiárido, e passar a apostar nas potencialidades da região.

Apostar em culturas xerófilas, adaptadas à escassez de água, pode ser um dos caminhos, uma vez que a agricultura na região é uma atividade de alto risco. “Historicamente, somente a cada dez anos 10 anos se tem apenas dois anos de chuvas regulares”, disse o diretor do Insa. Além disso, as áreas de sequeiro utilizadas hoje correspondem a apenas 4,8% do território. A pecuária, por sua vez, apesar de ser de baixo risco, precisa avançar mais em manejo, nutrição, reprodução e melhoramento, sendo que o principal gargalo são as forragens.

O semiárido ainda tem o desafio de resolver a questão das pequenas propriedades. Com 2,5 milhões de estabelecimentos rurais, cerca de 1,9 milhões deles possuem menos que 20 hectares, área insuficiente para garantir a sustentabilidade de uma família.

“O desafio é conviver com as peculiaridades da região, transformando a semiaridez em uma vantagem”, ressaltou Germano Costa. Exemplos de potencialidades não faltam. É o caso da palma, que no México está sendo utilizada mais para alimentação humana do que animal. Do licuri, do qual é possível fazer azeite e até barra de cereais. Ou da faveleira, usada na produção de óleo. “A questão toda é agregar valor com inovação tecnológica”, resume, citando o exemplo do mel, cuja expansão da cadeia produtiva praticamente está na dependência da quebra de barreiras fitossanitárias.

Para transpor esse desafio, diz Germano Costa, será necessário haver uma educação de ensino superior contextualizada, focada nas reais potencialidades da região e na inovação, de forma que se possa gerar produtos e serviços com vantagens competitivas.

Ele lembra que a economia do século XXI é pautada pela baixa emissão de carbono, por uma regulação ambiental mais severa, responsabilidade socio-ambiental, exploração de energia renovável e eficiência energética, e de novos materiais e processo produtivos. Nesse contexto, a exploração de culturas xerófilas, a agroecocologia e a agropecuária devem estar também na pauta dos estudos das universidades e instituições de pesquisa. Assim como estudos que visem frear a desertificação do solo na região.

O diretor do Insa destaca, porém, que os problemas do semiárido não se limitam à exploração sustentável dos recursos naturais. “É necessário romper com a política de combate a seca, de clientelismo e manipulação da miséria, entre outros inúmeros problemas de ordem social, econômica e política”, ressaltou.

“Trata-se de uma questão estratégica e de interesse nacional”, acrescentou ele, lembrando que, em todo o mundo, há uma tendência de as regiões áridas ou semiáridas aumentarem de tamanho, enquanto que a porção agricultável tende a ser insuficiente para atender a demanda de alimentos causada pelo crescimento da população. “Não é difícil imaginar as conseqüências sociais e econômicas caso o semiárido brasileiro, considerada a região semiárida mais populosa do mundo, não consiga ter uma economia sustentável de fato”, ressaltou Germano Gosta.

Potencialidades do Semiárido estão em discussão na SBPC/Mossoró. Confira na matéria publicada no site da SBPC.

Semiárido: um possível celeiro de matéria-prima para medicamentos fitoterápicos


O semiárido brasileiro pode vir a ser um grande produtor de matéria-prima para a indústria de medicamentos fitoterápicos. Além da tradição secular do uso de plantas medicinais, cuja eficácia científica vem sendo estudada intensamente por pesquisadores, as características climáticas da região fazem com que muitas plantas criem moléculas diferenciadas, com grande potencial para o desenvolvimento de novos fitoterápicos.

“O estresse hídrico faz com que as plantas do semiárido tenham maior potencial de produzir moléculas diferenciadas; mais do que em outras regiões do País”, firma o médico Manoel Odorico de Moraes, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Moraes, que atua como pesquisador na área, fará uma conferência sobre este assunto durante a Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN). Promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento tem o objetivo de discutir o desenvolvimento sustentável do semiárido brasileiro.

Ele explica que em condições normais o metabolismo de uma planta produz reações químicas, como a fotossíntese, por exemplo, que possibilitam o crescimento e a reprodução das células. Ou seja, fornece as funções básicas para a vida do organismo. Mas, quando a planta é submetida a algum tipo de estresse, ela passa a produzir novos tipos de moléculas para conseguir sobreviver. No caso do semiárido, o estresse hídrico, provocado por longos períodos secos e chuvas ocasionais concentradas em poucos meses do ano, é o que desencadeia essa reação química.

Para Moraes, o semiárido possui todas as condições para abrigar uma cadeia de produção de fitoterápicos: tradição popular do uso de plantas medicinais, que facilita os estudos etinofarmacológicos; e uma boa infraestrutura de pesquisa, com universidades e pesquisadores atuantes na área. “O estímulo ao cultivo de plantas medicinais poderá criar uma cadeia de produção bem-sucedida, desde pequenos produtores até a manufatura”, acredita.

Na sua avaliação, uma política de incentivo ao produtor, casada com as descobertas que vêm sendo feitas pelas instituições de pesquisa da região, poderia alavancar esse processo. “Só na Universidade Federal do Ceará temos cinco medicamentos em fase de testes clínicos, que dentro de poucos anos poderão ser comercializados”, conta o pesquisador. Um deles, que está sendo patenteado, terá no mesmo medicamento ação anti-hipertensiva e ansiolítica – algo inovador.

Mercado é o que não falta para justificar os investimentos na área. Segundo Moraes, o segmento de fitoterápicos vem crescendo de 8% a 10% ao ano no Brasil e já responde por R$ 500 milhões dos R$ 9 bilhões de todos os medicamentos vendido no País. “Além disso, temos uma grande mercado externo para explorar, a exemplo dos Estados Unidos, Alemanha e China que já são os maiores compradores de fitoterápico do Brasil”, ressalta. “A exportação não precisa ser necessariamente do produto manufaturado; pode ser da planta ou do extrato, o que facilitaria o escoamento da produção via exportação”, finaliza.

Abertura da SBPC alerta para desigualdades regionais

A 62ª Reunião Regional da SBPC que acontece em Mossoró até sexta-feira, 16, reúne na Universidade Federal Rural do Semi-Árido e na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte mais de 2.500 participantes. A abertura aconteceu ontem à noite, 13, no Auditório do Expocenter, com a presença de membros da sociedade científica, além de estudantes e representantes da sociedade local e estadual. A reunião se propõe discutir nos próximos três dias a ciência e a tecnologia na região do semiárido.


“Como entidade madura, no auge dos seus 62 anos, a SBPC exerce um papel consciente em defesa do ensino e a pesquisa, tendo muitas conquistas na área da ciência e da tecnologia”, discursou o presidente Marco Antonio Raupp. A nova realidade da educação superior no Brasil foi outro ponto enfocado pelo professor Raupp. “Precisamos superar as desigualdades regionais provenientes de questões políticas”, afirmou.

O presidente da SBPC justificou realização da reunião regional em Mossoró como forma de estimular o estado, o município e a sociedade em geral para o combate e a superação das desigualdades ainda presentes nas regiões norte e nordeste. “A SBPC atua em prol da sobrevivência do sistema educacional de forma a superar as desigualdades regionais”, pontuou.

Para o reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, professor Josivan Barboza, a reunião da SBPC acontece numa realidade ainda muito desfavorável para os jovens que moram na região do semiárido brasileiro. “Para cada 100 jovens da região, apenas 2 conseguem ingressar no ensino superior”, justificou o reitor.

Ainda segundo o professor Josivan Barboza a reunião coincide com a falta de condições para o funcionamento das escolas públicas que, diretamente, afetam as perspectivas dos jovens para o ingresso ao ensino superior. Como exemplo dessa desigualdade, o reitor citou o exemplo de uma universidade no estado catarinense, criada recentemente com 1.200 professores, enquanto que o Campus da Universidade do Semi-Árido de Caraúbas, na região do médio oeste, começa com apenas 10 professores.

Aproveitando a oportunidade, o reitor da UFERSA Josivan Barboza, sugeriu a SBPC um discurso mais aprofundado sobre a difícil realidade dos jovens que vivem no semiárido nordestino. “Não adianta pensar em tecnologia, inovação e desenvolvimento se os nossos jovens do semiárido não almejam ingressar na universidade”, alertou o reitor.

“Sediar uma reunião preparatória para SBPC nacional é de grande importância para a cidade de Mossoró, principalmente, quando se propõe discutir a questão do semiárido, uma região que precisa estar atenta para as possibilidades e limitações”, afirmou o reitor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, professor Milton Marques. Na ocasião, parabenizou a escolha do tema e agradeceu o empenho dos inúmeros profissionais, da UERN e da UFERSA, envolvidos na organização da SBPC Mossoró. Após a sessão solene, o professor Roberto Germano da Costa, do Instituto Nacional do Semiárido, proferiu a conferência de abertura com o tema: Semiárido Brasileiro: O Paradigma das Oportunidades.

Semiárido precisa de oportunidades

Assumir a aridez da região é o grande desafio para mudar a realidade do semiárido brasileiro. A opinião é do professor Roberto Germano Costa, diretor do Instituto Nacional do Semiárido, durante a conferência de abertura da 62ª Reunião Regional da SBPC, ontem à noite, 13, no Expocenter. Para o professor, a região tem que sair do discurso da fragilidade regional para o das oportunidades. “Temos que quebrar o paradigma da miséria para o da promoção”, reforçou o professor durante a conferência Semiárido Brasileiro: O Paradigma das Oportunidades.

Segundo Roberto Germano, cerca de 23 milhões de pessoas vive na região do semiárido brasileiro, sendo a maior concentração no mundo, onde a aridez e a semiaridez atinge cerca de 20% do planeta. “A atividade do ecossistema mostra a prática de uma agricultura de alto risco”, frisou o professor. Para Roberto Germano, a ideia de que a miséria é resultante das situações climáticas é uma visão distorcida da realidade. “Temos que saber conviver com a realidade da região, reconhecer e explorar as suas potencialidades como o semiárido é”, alerta o professor.

Outro ponto abordado é transformar o discurso do semiárido em assunto de interesse nacional, perpassando pelas políticas públicas nas áreas social, cultural, econômica, política e ambiental, tendo como eixos principais a sustentabilidade econômica e ambiental, a redução das desigualdades sociais e promoção da educação. “O semiárido precisa descobrir o avanço do conhecimento e da inovação a partir de novas oportunidades”, afirmou, citando como exemplo a biotecnologia, a ciência, a tecnologia e o cultivo da lavoura xerófila.

Passos Jr
Assessor de Comunicação da UFERSA

A realização da Reunião Regional da SBPC em Mossoró coloca temas da região em destaque no cenário nacional. Confira matéria publicada no site da SBPC.

Semiárido brasileiro: o grande desconhecido


O potencial agrícola do semiárido brasileiro vem sendo amplamente divulgado com o sucesso dos pólos de fruticultura e olericultura, especialmente daqueles localizados ao longo do rio São Francisco. Com água em abudância, propiciada pela irrigação, a região se notabilizou por produzir mais e melhor, a ponto de se tornar um dos principais exportadores de frutas do País. Isso acabou reforçando a crença de que o principal entrave para o desenvolvimento da região é o déficit hídrico.

No entanto, além de ampliar os atuais 6 mil km² de área irrigada – que representam apenas 0,6% dos quase 1 milhão de km² do semiárido brasileiro –, o desenvolvimento da região também dependerá da superação de um outro tipo de déficit: o do conhecimento. “As características do semiárido brasileiro são completamente distintas de semiáridos de outros países, e o domínio do conhecimento sobre a região é essencial para se conseguir explorar de forma sustentável os seus recursos naturais”, afirma o engenheiro agrônomo Manoel Abilio de Queiróz, professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), que falará sobre esse assunto durante a Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN).

Promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o evento será realizado de 14 a 16 de abril próximo e tem como objetivo discutir o desenvolvimento sustentável do semiárido brasileiro. Na sua conferência, Queiróz mostrará que o Brasil pode não ter a vantagem de outros países, como o Chile, por exemplo, que possui um clima semiárido parecido com o da Califórnia e por isso pode aproveitar as técnicas existentes. Por outro lado, as condições climáticas do semiárido brasileiro são melhores que as de outras regiões do mundo.

“Aqui a média de chuva é maior, o que propicia uma vegetação mais densa e variada. No entanto, ainda precisamos obter mais conhecimento para explorar as vantagens que essa condição climática oferece” acrescenta ele, lembrando que as expectativas são animadoras diante da interiorização que vem ocorrendo com universidades e a consequente fixação de mais pesquisadores na região semiárida.

Há mais de 35 anos trabalhando no semiárido como pesquisador, Queiróz se tornou um especialista no assunto. Conhece de perto várias regiões semiáridas da América do Norte, América do Sul, Ásia e África. Ele já trabalhou como pesquisador por dois anos na Índia, onde a irrigação beira os 40 milhões de hectares. Em todas as regiões semiáridas que visitou, pode constatar que o déficit hídrico não é a causa determinante de seu subdesenvolvimento.

“O estado do Arizona, nos EUA, com cerca de 300 mil km² de território e clima predominantemente árido e semiárido, possui uma área irrigada de 10 mil km² (3,33%) – um pouco maior que a do semiárido brasileiro. No entanto, a renda per capita lá é de 27 mil dólares, enquanto o Índice de Desenvolvimento Humano do semiárido brasileiro é um dos mais baixos do País”, ressalta Queiroz, acrescentando que a diferença fundamental, neste caso, é forma com que os recursos naturais são explorados e a economia é estruturada.

Na sua avaliação, para que o semiárido brasileiro tenha seu potencial agrícola explorado plenamente e de forma sustentável, é necessário também haver uma mudança do enfoque político para a região. “Menos medidas paliativas, como as Frentes de Emergências e os carros-pipa, e mais ações estruturadoras que possibilitem o aproveitamento sustentável dos recursos naturais da região”, finaliza ele.

Burocracia atrasa andamentos de projetos importantes no Ceará. Confira na reportagem de Rodrigo Carvalho.

CE também enfrenta demora de projetos

RODRIGO CARVALHO


11/4/2010

O Ceará é um exemplo claro de como os tentáculos burocráticos da máquina estatal (em todas as suas esferas de poder) acabam por atravancar o desenvolvimento de alguns projetos considerados de primeira grandeza. Não obstante o Governo do Estado tenha implantado o Monitoramento de Ações e Projetos prioritários (Mapp), alguns empreendimentos teimam em demorar, como a refinaria e as usinas eólicas, por conta de entraves legais.

No caso da refinaria, o terreno vem sendo reclamado como área indígena pelo Ministério Público Federal. O local passou por avaliação da Fundação Nacional do Índio (Funai), que concluiu pertencer à etnia Anacé. A dúvida agora é em relação ao tamanho da área.

O governador Cid Gomes assegurou que pelo menos 70% do terreno onde será construída a Premium 2 já estão liberados pelo governo estadual. O procurador Alessander Sales afirma que, em 2009, técnicos da Petrobras garantiram ao Ministério Público Federal (MPF) que só iriam instalar a refinaria depois da resolução do conflito indígena. Se houver qualquer tentativa de implantação do empreendimento, o MPF vai intervir.

Vento contra

Os ventos têm soprado contra as usinas eólicas no Ceará. Considerada uma das formas mais limpas de se produzir energia elétrica em vigor no mundo, a energia eólica, porém, tem sido questionada no Estado, onde ações do Ministério Público Federal denunciam problemas socioambientais causados na instalação dos parques eólicos.

Entre os problemas estão a devastação de dunas, o aterramento de lagoas, interferências em aquíferos, a destruição de casas e conflitos com comunidades de pescadores. Todos os 14 empreendimentos instalados ou em instalação no Estado, por meio do Programa de Incentivo a Fontes Alternativas (Proinfa), enfrentaram questionamentos judiciais para serem concretizados. O Ceará é o único entre todas as unidades da Federação que possuem parques eólicos onde tais problemas ocorreram.

O presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Lauro Fiúza, já declarou estar preocupado com a situação cearense. Segundo ele, uma resposta dos impactos desses problemas pode ser percebida no fato do Ceará ter perdido a liderança nos novos projetos para instalação dos parques eólicos para Rio Grande do Norte, apesar das terras cearenses possuírem maior potencial. Para ele, a exigência de estudos mais aprofundados de impacto ambiental são desnecessários, pois aerogeradores ocupam porcentual muito pequeno das dunas onde são instalados. (SC)