quinta-feira, 29 de abril de 2010

Moscamed amplia acesso do Brasil ao mercado internacional de frutas

Por Aline Guedes


O Brasil é um dos três maiores produtores de frutas no mundo, com uma produção de aproximadamente 40 milhões de toneladas anuais e uma área plantada em torno de 2,5 milhões de hectares. Trata-se de um dos mais ativos segmentos da economia nacional, liderando as estatísticas de geração de emprego e de números de estabelecimentos industriais.


Esta dinâmica do setor, aliada ao crescente aumento das exportações, observado nos últimos anos, tem exigido especial atenção, sobretudo no controle de pragas. Nesse sentido, o trabalho desenvolvido pela Biofábrica Moscamed Brasil (BMB), em Juazeiro (BA), no Vale do São Francisco, é referência, por meio da produção de machos estéreis da mosca do mediterrâneo para o controle biológico daquela que é considerada a praga mais ofensiva da fruticultura nacional.

O inseto ataca grande variedade de frutas tropicais, subtropicais e temperadas, a exemplo da manga, uva e goiaba, causando prejuízo entre R$ 150 e R$ 200 milhões anuais.


O Moscamed é um empreendimento ligado ao Ministério da Agricultura (Mapa) e que também conta com aporte financeiro do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Integração Nacional (MIN) e do governo da Bahia, por meio das secretarias da Agricultura e da Ciência, Tecnologia e Inovação.


Além disso, a organização tem estabelecidas parcerias estratégicas com instituições nacionais e internacionais, a exemplo do Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCT), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), secretarias estaduais de agricultura, Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) das Nações Unidas (ONU), Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), entre outras.

A instituição produz machos estéreis da mosca-das-frutas, que, ao copularem com as fêmeas, transferem espermatozóides infecundos, bloqueando a reprodução. Tudo isso objetiva a supressão populacional do inseto.

De acordo com o diretor executivo da Moscamed, Jair Virgínio, essa ação em estados como Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul tem sido essencial para garantir e ampliar o acesso ao mercado internacional, cada vez mais exigente quanto à qualidade dos produtos adquiridos.

"Temos buscado a excelência do trabalho, que também vem se expandindo para diferentes atuações nas áreas da sanidade animal e vegetal. Além da mosca do mediterrâneo, ainda há uma atuação sobre a lagarta da macieira (Cydia pomonella), que ataca as rosáceas, como maçã, pêra e ameixa, principalmente em plantações da região Sul" - informa Virgínio.

Para saber mais sobre a Moscamed, acesse: www.moscamed.org.br

terça-feira, 27 de abril de 2010

Aula de campo explora potencial do semiárido



Por Passos Júnior/UFERSA

Os estudantes do primeiro período do curso de agronomia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido estão tendo a oportunidade de conhecer as potencialidades da região do semiárido. A ideia do professor da disciplina Introdução a Agronomia, Josivan Barbosa, é mostrar a viabilidade de produção mesmo diante das especificidades da região que tem 94% de sua vegetação formada por caatinga.

Um exemplo, visitado in loco pelos estudantes, foi o perímetro irrigado da região de Mossoró, Baraúnas e parte da Chapada do Apodi, nos estados do Rio Grande do Norte e ceará. O que estudantes observaram será transformado em relatórios num estudo mais aprofundado sobre cada tema.



Para a maioria dos alunos, era difícil imaginar que houvesse na região do semiárido um verdadeiro celeiro produtivo com abundância de frutas voltada para o mercado externo. Graças à agricultura irrigada, dezenas de fazendas têm se destacado com uma cadeia produtiva de alto padrão tecnológico que envolve a produção de sementes, o plantio, a colheita e o transporte para o mercado internacional.

A W.G. Fruticultura, de propriedade do produtor mossoroense Wilson Galdino, é destaque na produção de mamão, sendo o maior produtor da fruta na região para o mercado externo, totalizando uma área de plantio superior a 400 mil hectares e sendo responsável por mais de 600 empregos diretos em plena região do semiárido. A W.G. Fruticultura conta com mais de dez fazendas espalhadas nos municípios de Baraúnas, Quixeré e Limoeiro do Norte, as duas últimas no estado do Ceará, tendo como cenário a Chapada do Apodi.

Também é no semiárido cearense, bem próximo a divisa com o Rio Grande do Norte, que vamos encontrar a Fazenda Ipioca, com uma produção de cana de açúcar superior a 5 mil hectares. A marca, consagrada como produtora de cachaça, tem mercado garantido com preços que variam de R$ 3,00 a R$ 120,00, o litro.


Durante a aula de campo, os estudantes de agronomia tomaram conhecimento que não foi por acaso que a segunda maior empresa de fruticultura do mundo, a Del Monte, com sede em Miami, nos Estados Unidos, há uma década se instalou no município de Quixeré com excelentes resultados na produção de frutas tropicais.

A abundância de água em baixa profundidade, cerca de 150 metros, e o solo argiloso da região, de alta fertilidade, têm demonstrado a viabilidade econômica do semiárido nordestino. A empresa é a que mais emprega engenheiros agrônomos se destaca no cenário internacional com a grande produtividade de melão e banana.

É na Chapada do Apodi onde estão os pioneiros da fruticultura. Fazenda Frota, Berça, Leomar, Frutacar são alguns exemplos de empreendedores que conseguiram êxito com a produção de frutas.



Os estudantes, ao ouvir as explicações do professor Josivan Barbosa, não poderiam imaginar que o Rio Quicheré foi durante muitos anos considerado o maior rio seco do mundo, realidade modificada com a construção da Barragem Castanhão e que passou ofertar água abundante para pequenas, médias e grandes propriedades agrícolas.


“A qualidade do solo que é propicia para a agricultura, aliada a grande oferta de água através dos canais de irrigação são bambeadas para a Chapada do Apodi beneficia todo o Distrito Jaguaribe/Apodi”, explicou o professor. No DIJA se produz atualmente mais de 10 tipos de frutas, além do cultivo de milho e feijão.


Moacir Noberto: 40 anos vivendo às margens do Jaguaribe


O comerciante Moacir Noberto, de 64 anos, com 40 vivendo às margens do Rio Jaguaribe, no município de Limoeiro do Norte, no Ceará, acompanhou de perto a transformação ocorrida tanto na região do Vale quanto na Chapada do Apodi com a construção das Barragens das Pedrinhas e Castanhão. A paisagem da caatinga seca cede lugar para o perímetro irrigado construído há mais de 20 anos. “Antes, aqui quando não era a seca era a cheia”, relembra o comerciantes sem saudades.

A Barragem do Castanhão, com capacidade para acumular 7 bilhões de metros cúbicos de água, é a maior da América do Sul com uso misto de água. “Antes do Castanhão havia cheia todos os anos”, relembra Moacir. A maior aconteceu em 1985, antes da construção da barragem que recebe água de duas bacias: do rio Salgado e do Jaguaribe.


Além da fruticultura irrigada, a tilapia e o tucunaré são fontes de renda para a população. Para ser ter uma ideia, apenas na barraca de Moacir Noberto são comercializados semanalmente mais de 200 quilos de tilapia, peixe criado em cativeiro. “A construção da subestação do Distrito de Irrigação Jaguaribe/Apodi mudou a economia do município. Hoje, o agricultor tem condições para produzir”, afirma. A Subestação bombeia a água para a chapada – perímetro irrigado – para mais de 60 km de canais, no município de Limoeiro do Norte.

IAGRAM/UFERSA promovem empreendedorismo no semiárido




Com a proposta de estimular a cultura empreendedora na região do semiárido, a Incubadora do Agronegócio de Mossoró – IAGRAM estará promovendo nos dias 6 e 7 de maio, o I Seminário da IAGRAM e o II Encontro da Rede Potiguar de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos do Rio Grande do Norte – REPIN. Os dois eventos vão acontecer simultaneamente na Universidade Federal Rural do Semi-Árido, sendo o Seminário da IAGRAM no Auditório do CTARN e, o REPIN, no Auditório do Centro de Convivência, ambos localizados no Campus Central da UFERSA Mossoró.

Segundo o gerente da IAGRAM, o agrônomo Giorgio Mendes Ribeiro, a intenção é divulgar as ações da Incubadora e ao mesmo tempo abrir espaços para novas parcerias. “Serão dois dias para apresentação não apenas do nosso trabalho, mas também de resultados obtidos pelos nossos afiliados”, afirma Giorgio Mendes.

Recentemente, a Incubadora do Agronegócio ampliou sua área de atuação passando atender os mais diversos setores do agronegócio. “Na oportunidade vamos também mostrar a nova versão da IAGRAM que na sua fase inicial desenvolveu atividades apenas na área da apicultura”, adiantou o gerente.

A expectativa de Giorgio Mendes é de que os dois eventos possam reunir cerca de 200 pessoas que lidam diretamente com a questão do agronegócio. “Nossa intenção também é despertar o interesse dos produtores rurais, empresas e a comunidade acadêmica – estudantes e professores – para a inovação tecnológica e o empreendedorismo”, justificou o gerente da IAGRAM.

PROGRAMAÇÃO – O I Seminário da IAGRAM contará com uma extensa programação que será iniciada na quinta-feira, 6, a partir das 19h, prosseguindo durante toda a sexta-feira, 7, no Auditório Central da UFERSA. A abertura contará com ato solene enfocando a importância da Incubadora para o desenvolvimento da região, apresentação cultural e apresentação de um vídeo institucional sobre a Incubadora do Agronegócio. Na ocasião, haverá também a graduação de duas empresas incubadas pela IAGRAM, a Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável – COOPAPI e a Associação dos Apicultores da Serra do Mel - APISMEL, que deixam o estágio de incubadoras passam atuar como empresas associadas.



O segundo dia será com intensa atividade com a programação começando às 7h da manhã, prosseguindo até às 17h. Os trabalhos serão iniciados com a palestra Motivando para Empreender, a ser proferida pelo consultor da FOCAR, Raimundo Fernandes.

Em seguida, das 08h50min às 10h30min, estão programadas diversas apresentações de experiências desenvolvidas por outras incubadoras do estado: a Incubadora de Bordados, a Incubadora de Cooperativas Populares, a Incubadora da Ovinocaprinocultura, o Centro de Inovação Tecnológica e o Núcleo de Incubação Tecnológica são algumas delas.

Na parte da tarde, após o intervalo do almoço, às 13h30min, os participantes vão assistir a palestra Programa Sebrae de Incubadoras de Empresas, a ser ministrada pela gestora nacional do Sebrae, Dra. Maria de Lourdes Silva. Em seguida, às 14h30min, a palestra Inovação como Estratégia Competitiva, com o o gestor de incubadoras do RN, João Bosco Cabral Freire. A última palestra do dia será às 16h, sobre Empreendedorismo e Inovação no Meio Rural, a ser proferida pelo analista do Sebrae-RN, João Leonel Pontes.

REPIN – Já o II Encontro da Rede Potiguar de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos do Rio Grande do Norte acontece na sexta-feira, 7, a partir das 13h30min, no Auditório do Centro de Convenções. A abertura do Encontro será feita pelo Dr. Murilo Diniz, diretor da Administração e Finanças do Sebrae/RN.

A REPIN terá prosseguimento com a leitura da Ata com os resultados obtidos no encontro do ano passado e, em seguida, será apresentado o Plano de Ação de Funcionamento da REPIN para 2010 e a eleição para a gestão 2010/2011. Confira, abaixo, a programação do I Seminário da IAGRAM e o II Encontro da Rede Potiguar de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos do RN, na íntegra.


I SEMINÁRIO DA IAGRAM : PROMOVENDO EMPREENDEDORISMO NO SEMIÁRIDO

PROGRAMAÇÃO

QUINTA-FEIRA – 06/05

Local: Auditório do CTARN

TEMAS/ATIVIDADES

19h-19h30 - Apresentação Cultural

19h30-20h15 - Abertura do seminário (apresentação de autoridades)

20h:15-20h30 - Apresentação do vídeo institucional da IAGRAM

20h30-20h45 - Graduação de empresas incubadas da IAGRAM

20h50 - Coquetel de Encerramento


SEXTA-FEIRA – 07/05

07h-07h30 – Credenciamento

07h30-08h15 - Palestra: Motivando para empreender

Palestrante: Raimundo Fernandes (FOCAR)

08h15-08h35 - Apresentação da IAGRAM/UFERSA

08h35-08h50 - Apresentação INBORDADOS

08h50-09h10 - Apresentação NEB/INCOOP

09h10-09h30 - Coffee Break

09h30-09h50 - Apresentação da INEAGRO-Cabugi

09h50-10h10 - Apresentação CITECS/UERN

10h10-10h30 - Apresentação NIT/IFRN

10h30-11h - Encerramento com Sorteio de brindes

11h-13h25 - Intervalo para almoço

13h30-14h35 - Palestra: Programa SEBRAE de Incubadoras de Empresas

Palestrante: Maria de Lourdes Silva (Gestora do SEBRAE)

14h35-15h40 - Palestra: Inovação como estratégia competitiva

Palestrante: João Bosco Cabral (Gestor de incubadoras RN)

15h40-15h55 - Coffee Break

16h-16h55 - Palestra: Empreendedorismo e Inovação no Meio Rural

Palestrante: João Leonel de A. Pontes (analista SEBRAE-RN)

17h - Encerramento com Sorteio de brindes


II ENCONTRO DA REDE POTIGUAR DE INCUBADORAS DE EMPRESAS E PARQUES TECNOLÓGICOS DO RN

SEXTA-FEIRA – 07/05

Local: Auditório do Centro de Convivência


TEMAS/ATIVIDADES


13h30-13h45 - Abertura Dr. Murilo Diniz, Dir. de Administração do Sebrae/RN

13h45-14h15 - Leitura da Ata com os resultados do I Encontro 2009

14h15-15h - Plano de Ação de Funcionamento da REPIN em 2010

– Administração e Gestão da REPIN

– Eleição da REPIN para a gestão 2010 e 2011

Coordenação - Dra. Carla Motta

15h-15h45 - Coffee Break

15h45-16h55 - Ações e metas para 2010

17:00h - Encerramento.









Estudantes visitam área que pertenceu a Frunorte


Por Passos Júnior/UFERSA


Os estudantes do curso de agronomia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido visitaram no último sábado, 24, três municípios da região da região Oeste Potiguar: Carnaúbas, Serra do Mel e Porto do Mangue. Segundo o professor da disciplina Introdução a Agronomia, Josivan Barbosa, o objetivo é mostrar aos futuros agrônomos o potencial e a realidade da região no que se refere à fruticultura.

No município de Carnaúbas, os estudantes observaram a área da antiga Frunorte, empresa que conquistou o posto de maior produtora de frutas tropicais do Nordeste é que hoje, após ser transformada em assentamentos - Irmã Doroth, Magarida Silva e Rosa Luxemburgo – se encontra em total estado de abandono. “A Frunorte”, explicou o professor, “foi a maior produtora de manga do Rio Grande do Norte”, disse, mostrando o pomar quase que devastado e os canos de irrigação jogados ao relento.


A decadência da Frunorte começou no final dos anos noventa, culminado com o seu fechamento em 2000, quando a empresa fechou suas portas no vale do Assú e demitiu quase 500 trabalhadores. Nas três fazendas da Frunorte produziam melão, manga, acerola, pupunha e uva. Os estudantes também observaram o total abandono dos prédios onde funcionavam a packing house - casa de embalagem, que obedeciam aos padrões internacionais para exportação e tinha um custo na ordem de dois milhões de dólares.


Ainda no município de Carnaubais, os estudantes passaram pela Del Monte, a terceira maior empresa de frutas e que no ano passado, com as enchentes ocorridas no Vale do Assú, decidiu transferir parte da sua produção de banana para o Vale do Jaguaribe, no Ceará, acarretando uma perda de 800 empregos diretos para Carnaubais.




Serra do Mel – Formado por 26 agrovilas, o município de Serra do Mel se destaca no cenário nacional como o município com o maior plantio de cajueiro sequeiro do país, tendo à castanha é o a produção de mel como as principais atividades econômicas.

Localizado numa pequena serra sobre a Chapada do Apodi, o município de Serra do Mel não dispõe de água para agricultura irrigada, motivo pelo qual a produção do caju só acontecer no período da safra que vai de setembro a novembro.



Além da escassez de água, os estudantes de agronomia também se depararam com a deficiência na gestão dos empreendimentos rurais no município. O maior exemplo são os prédios da Cooperativa dos Produtores de Caju, que seria para beneficiar o pseudofruto (a polpa) e a Fábrica de Castanha estão também em total estado de abandono.



Sertão vira mar – A aula de campo dos estudantes de introdução à agronomia no município do Porto do Mangue, onde o Rio Assú/Piranhas deságua no mar. A atividade salineira, a carcinicultura e extração de petróleo e gás natural são as principais atividades da região.



Os estudantes puderam observar o fim, em terra, da Chapada do Apodi, na praia Ponta do Mel, num imenso paredão que serviu de cenário para o filme “Maria, a Mãe do Filho de Deus”, do cineasta e diretor Moacyr Góis. “É a partir desse ponto que o sertão vira mar com uma quebra da Chapada do Apodi, que começa em Limoeiro do Norte, no Ceará, e adentra pelo oceano”, explicou o professor aos estudantes.



Alcanorte: como enfrentar maldições, preconceitos e desafios

Tem ressurgido com força nas últimas semanas a discussão sobre a Alcanorte e sua revitalização. O assunto ganhou projeção principalmente por mérito do Novo Jornal, inicialmente através de relevante artigo do ex-Presidente da FIERN, Bira Rocha, e com uma série de artigos e reportagens subsequentes que geraram pronunciamentos e iniciativas de parte de parlamentares, líderes empresariais e outros formadores de opinião importantes. Sempre que reaparece, este assunto acende paixões, incendeia debates e sucita acertos e equívocos de grande magnitude.

A Alcanorte nunca é, e talvez nunca tenha sido, um assunto tratado com merecidas e necessárias racionalidade, objetividade e serenidade. Isso é até compreensível, dado o histórico de confusões que envolve a sua criação e inacabada implementação: uma história altamente polêmica, recheada de teses mercadológicas inexpugnáveis, teorias conspiratórias envolvendo lobbies internacionais poderosíssimos, complexidades técnicas compreendidas por menos de 10% dos que se arvoram a falar sobre o assunto, correlações políticas e corporativas obscuras - em suma, todos os componentes de um verdadeiro thriller empresarial capaz de cansar qualquer cristão, que dirá algum investidor minimamente sério.
 
É por isso que o Governo do Estado do Rio Grande do Norte vem trabalhando desde 2005, em regime de absoluta discrição - mas de forma objetiva e eficaz, na análise contextual, técnica e econômica das possibilidades de revitalização da Alcanorte em Macau-RN. Ao contrário do que pode parecer aos olhos de quem somente conhece o assunto pela imprensa, o Governo do Estado tem acompanhado paripassu as disputas judiciais que se sucederam ao longo dos últimos 7 anos pelo controle e gestão tanto da Álcalis (RJ) quanto da Alcanorte, sua subsidiária integral. Ao longo deste período, tanto a Secretaria de Energia (secretários Tiburcio Batista e Jean-Paul Prates sucessivamente) quanto a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (secretários Tiago Gadelha, Marcelo Rosado e Segundo de Paula) receberam e ouviram as diretorias então ocasionalmente legitimadas por decisões judiciais a cada momento, e solicitaram informações e projetos relativos à revitalização da planta e outras atividades potencialmente interessantes para a Alcanorte no RN. No entanto, as parcas informações retornadas não inspirariam qualquer gestor público minimamente responsável a avalizar planos inconsistentes e uma situação contábil e financeira incerta. Menos ainda o fariam investidores de qualidade, nacionais ou estrangeiros, estatais ou privados.
 
Algumas descobertas e fatos novos, consolidados nos últimos meses, fizeram com que pudessemos começar a sonhar de novo com um Alcanorte revista e potencialmente viável:

Vocês sabiam que, apesar de aparentemente morta, a Alcanorte (e a sua mãe, Álcalis) ainda geram receita - advinda de royalties de poços terrestres localizados dentro de seus domínios e de contratos de cessão de uso para captação de água (Caern/Macau), arrendamento para aeroporto (Arraial do Cabo/Cabo Frio) e aluguel de imóveis (tanto em Macau quanto em Arraial do Cabo), além da venda de sucata (em Arraial do Cabo)?

Vocês sabiam que as disputas judiciais pelo controle das empresas eram basicamente para poder gerir e "aplicar" esta pequena receita - em detrimento do potencial gigantesco de investimentos e utilizações que estes ativos podem representar?

Vocês sabiam que, depois de décadas debatendo acerca do caráter estratégico ou não da barrilha (em conjunto com petróleo, aço, ferro etc), e apesar de ter conseguido construir grandes conglomerados bem sucedidos em todas estas últimas áreas, o Brasil ainda importa 100% da barrilha de que necessita?

Vocês sabiam que, passadas décadas de abandono, ainda não existe localidade mais tecnicamente correta e economica/logisticamente viável para se produzir barrilha no Brasil que a Alcanorte, em Macau-RN?

Vocês sabiam que os ativos da empresa-mãe Álcalis foram vendidos aos pedaços pelas gestões anteriores sob a forma de sucata, e que a fábrica de barrilha que lá ainda funcionava já não existe mais? E que, mesmo que existisse, o suprimento das sua matéria-prima seria inviável - pois o calcário era extraído das conchas do fundo da Lagoa de Araruama (operação hoje proibida pelos órgãos ambientais do RJ) e o sal era "importado" do RN para Arraial do Cabo, porque as salinas de lá já não produziam eficientemente?

Vocês sabiam que a unidade industrial que se encontra encaixotada e integralmente inventariada lá em Macau inclui uma termoelétrica de 16MW que faz com que a produção de barrilha da unidade (que pode suprir um terço da demanda nacional) seja auto-suficiente tanto em energia quanto em vapor, prescindindo do vapor da Termoaçu?

Vocês sabiam que a atual diretoria, liderada pelo advogado Tiago Brasil de Souza, assumiu o comando da Álcalis e da Alcanorte no ano passado surgindo pela primeira vez como "terceira via" na assembléia de empregados, vencendo uma dura disputa com os grupos que geriram a empresa nos últimos 10-12 anos, prometendo recuperar a empresa e cessar o desmantelamento gradual dos seus ativos?

Vocês sabiam que, logo após eleito, o novo Presidente da Alcalis/Alcanorte procurou o Governo do Estado do RN e expressou oficialmente o seu interesse em garantir empenho através da nomeação de equipe técnica e utilização da receita ainda existente para elaborar inventários de ativos, estudos de mercado, análises tecnico-financeiras visando a revitalização da empresa?

Finalmente, vocês sabiam que, desde meados do ano passado, a Secretaria de Energia e Assuntos Internacionais, conjuntamente com a Procuradoria Geral do Estado, a Secretaria de Planejamento e Finanças e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, vem empreendendo - discreta mas consistentemente - um processo de investigação, análise, discussão interna e trabalho técnico com vistas a finalizar um diagnóstico preliminar da situação operacional, técnica, financeira, societária e tributária da Alcanorte? E que este diagnóstico servirá de base para a elaboração das diretrizes e metodologias para enfrentar efetivamente o desafio de revitalizá-la, aprimorá-la ou adaptá-la aos novos contextos de mercado do Brasil e do mundo - não somente quanto à barrilha como também quanto a outros potenciais segmentos industriais e petroquímicos que poderão ser viabilizados a partir de seus ativos? Pois é.

É claro que a revitalização da Alcanorte dependerá da mobilização política de alto nível, da parcerias de empresas como a Petrobras, a COSERN, a POTIGÁS, a CAERN e de investidores setoriais brasileiros e até estrangeiros que consigam enxergar oportunidades de parceria (e não mendicância ou caridade) para com um novo, moderno e objetivo conceito de ALCANORTE.

Mas de nada adiantará gritar e reivindicar sem saber do que se está falando, e principalmente sem saber o que pedir - ou melhor, o que intercambiar. Isso foi feito durante anos, sem sucesso. Até que os reivindicantes vocálicos se cansaram e/ou se queimaram - e amaldiçoaram a Alcanorte como se dela fosse a culpa.

Discrição e diagnóstico técnico e econômico - antes de lançar reivindicações ao léu. Essa foi a abordagem recomendada pela Governadora Wilma de Faria, recentemente referendada pelo futuro Governador Iberê Ferreira de Souza. É assim que se enfrentam maldições históricas, preconceitos mercadológicos, desinformação e desafios técnicos.

Para quem já esperou mais de três décadas com equipamentos ao vento, o que são alguns meses de trabalho prévio para não se pregar no deserto?




“Lampeão, sua história”: Objetivos da primeira biografia erudita do “rei do cangaço”

(*) José Romero Araújo Cardoso


Publicado no ano de 1926, pela Imprensa Oficial do Estado da Parahyba, o livro “Lampeão, sua história”, de autoria do jornalista Érico de Almeida, é a primeira biografia erudita do “rei do cangaço”.

Almeida militou anos a fio no Jornal paraibano “O Norte”. Quando da ênfase às inovadoras políticas públicas encabeçadas pelo governo Epitácio Pessoa na presidência da República (1919-1921), engajou-se como funcionário do Ministério da Agricultura, lotado no Escritório deste órgão em Princesa (PB), cujo objetivo principal consistia em combater a lagarta rosada, a qual era sério problema para a cultura algodoeira, principal produto da pauta de exportações do Estado da Paraíba na época.

Quando do término do triênio Epitacista, houve total desestímulo dos esforços, empreendidos por parte do sucessor, o mineiro Arthur Bernardes, que escandalizado com a onda de corrupção que marcou o período anterior desestruturou as obras de açudagem e outros projetos importantes, incluindo a campanha contra as pragas que atingiam os algodoais.

Com o fechamento dos Escritórios do Ministério da Agricultura espalhados pelo Estado da Paraíba, inclusive o posto estabelecido em Princesa, Érico de Almeida ficou desempregado, como muitos outros, tendo gerado a sensibilidade do “Coronel” José Pereira Lima, que resolveu unir o útil ao agradável, talvez levando em conta o consórcio do jornalista com mulher da localidade, da família Duarte, de nome Rosa.

Devido ao ataque cangaceiro a Sousa (PB), pois antes Lampião desfrutava de proteção integral na região, graças ao acordo firmado com o “Coronel” Marçal Florentino Diniz e seu filho Marcolino, Zé Pereira se viu na contingência de desviar a atenção dos fatos através da ênfase à literatura voltada para a negação do óbvio.

O ofício de jornalista auxiliou bastante Érico de Almeida quando foi contratado para escrever o que seria a primeira biografia erudita de Lampião, pois o costume de anotar tudo quando do exercício de suas funções como funcionário do Ministério da Agricultura foi de fundamental importância para a elaboração de sua obra.

Os objetivos do livro são claros, pois negar a melindrosa relação de coiterismo que existia há tempos imemoriais na região de Princesa não era tarefa fácil. Lampião, sentindo-se traído, passou a berrar aos quatro cantos as facilidades e as serventias de sua “profissão” aos que estavam lhe perseguindo tenazmente devido à forma como se efetivou o ataque cangaceiro à cidade de Sousa.

No livro “Lampeão, sua história” há a defesa que as perseguições aos cangaceiros datavam de antes do “rei do cangaço” decidir enviar seus homens para levar avante a vingança pretendida por humilde bodegueiro da localidade de Nazarezinho (PB), então distrito de Sousa, contra importante oligarca local de nome Otávio Mariz.

Episódios conhecidos da história do cangaço, como a morte de Meia-Noite nos grotões ermos do saco dos Caçulas, foram deturpados propositalmente a fim de eximir de culpas importantes personagens que fizeram a história do movimento, como Manuel Lopes Diniz, conhecido por Ronco grosso, homem da inteira confiança dos “Coronéis” José Pereira Lima, Marçal Florentino Diniz e de Marcolino.

O livro de Érico de Almeida não cita que Lampião passou meses sendo cuidado nos Patos de Irerê por dois médicos, depois que foi ferido gravemente no tornozelo pelos disparos feitos pelos volantes comandados pelo Major Teófanes Ferraz Torres, da força pública pernambucana.

João Suassuna, presidente paraibano na época, é elevado à categoria de verdadeiro santo protetor, exponencializando consideravelmente a campanha deflagrada pelo gestor paraibano contra os cangaceiros. A forma como Érico de Almeida trata Suassuna em seu livro levou literatos de peso a afirmarem categoricamente que se tratava de um pseudônimo utilizado pelo presidente paraibano para se autopromover.

Elpídio de Almeida afirmou que era Suassuna o real autor do livro, enquanto Mário de Andrade, sutilmente, em “O Baile das Quatro Artes”, enfatizou que havia comentários de que realmente era Suassuna o autor da primeira biografia erudita de Lampião.

Em contato com pessoas que conheceram o jornalista, quando de sua estadia em Princesa, a exemplo dos senhores Zacarias Sitônio, sua esposa Hermosa Goes Sitônio e Belarmino Medeiros, todos residentes em João Pessoa (PB) na época do resgate do livro de Érico de Almeida, encontramos provas suficientes sobre a real existência do autor, como a certidão de casamento e fotografia em que aparece discretamente o jornalista.

Entrevistado em Limoeiro do Norte (CE), quando da fuga alucinada depois da tentativa de ataque a Mossoró (RN), no ano seguinte à publicação do livro de Érico de Almeida, Lampião destilou ódio contra o “Coronel “José Pereira Lima, chamando-o de falso e mentiroso, pois havia se beneficiado com todos os favores de sua “profissão” e depois o havia traído.

Após a revolução de trinta, o livro de Érico de Almeida foi sendo gradativamente esquecido, colocado entre os malditos, fruto de uma estrutura carcomida que precisava ser apagada em prol da edificação de uma nova ordem econômica, política e social.

Com o apoio indispensável do senhor Zacarias Sitônio,que apresentou-nos o livro raro escrito pelo jornalista Érico de Almeida, conseguimos resgatá-lo, no ano de 1996, após matéria publicada no jornal paraibano “Correio da Paraíba”, datado do dia 12 de agosto de 1995, sendo reeditado, setenta anos depois, pela editora universitária da UFPB, que se responsabilizou pela terceira edição em 1998.

Não obstante os profundos vínculos com as estruturas de poder dominantes na República Velha, era imprescindível que o livro “Lampeão, sua história” saísse do ostracismo ao que foi relegado pelos novos mandatários que assumiram o poder com a vitória dos revolucionários em outubro de 1930, pois cessando os exageros existem informações preciosas sobre o ciclo épico do cangaço e sua época que não podem ficar ocultas dos historiadores e dos que apreciam as velhas coisas sobre o semiárido do nordeste brasileiro.


(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Central, Mossoró/RN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UERN)