segunda-feira, 6 de outubro de 2008

AGRICULTURA IRRIGADA NA TERRA DA UFERSA

AGRICULTURA IRRIGADA NA TERRA DA UFERSA

Prof. Josivan Barbosa
ufersa@ufersa.edu.br

Muitos técnicos e muitas pessoas leigas no assunto nos perguntam quais as razões do sucesso da Agricultura Irrigada nos Agropólos Mossoró-Açu e circunvizinhos. Não conhecemos a história na íntegra, mas quando eu era aluno de Agronomia, no início dos anos 80, não havia, com exceção da MAISA, que cultivava caju, uma agroindústria de sucesso na fruticultura. No Vale do Rio Açu as experiências com a fruticultura estavam apenas iniciando, pois a região tinha sérias limitações com água, o que melhorou a partir da inauguração da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves no ano de 1982. No Vale do Jaguaribe e na Chapada do Apodi não havia experiências de êxito ligadas à atividade de produção de frutas irrigadas.
Não queremos atribuir o sucesso unicamente aos esforços da então Escola Superior de Agricultura de Mossoró, hoje Universidade do Semi-árido, mas obrigatoriamente, esta instituição teve importância ímpar no processo.
Em 1979 a Direção desta IFE conseguiu aprovar, juntamente com mais cinco universidades do Nordeste (UFC, UFPI, UFRPE e UFPB) um importante projeto de desenvolvimento tecnológico dentro do PDCT (Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Nordeste). A ESAM foi contemplada com recursos da ordem de 45 milhões de dólares por um período de cerca de seis anos. Os recursos eram provenientes do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do Governo Brasileiro, através do CNPq na proporção de 1:1. Foi o maior projeto da história dessa instituição de ensino superior. Os principais benefícios do projeto para o desenvolvimento da nossa IFE foram:
Contratação de 110 profissionais de nível médio e superior (laboratoristas, engenheiros agrônomos, trabalhadores de campo, motoristas, técnicos de informática e técnicos agrícolas)
Construção dos Laboratórios de Água e Solos e de Hidráulica
Construção da Biblioteca Central Orlando Teixeira
Aquisição de inúmeros equipamentos científicos de apoio à pesquisa
Ampliação do Laboratório de Sementes
Ampliação dos Laboratórios de Alimentos
Instalação de módulos demonstrativos de irrigação nos municípios de Touros, João Câmara, Mossoró, Baraúna, Gov. Dix-Sept Rosado, Pau dos Ferros, São Miguel, Zé da Penha e Rafael Fernandes. Os módulos eram instalados em áreas particulares, após rígido trabalho de seleção dos beneficiados feito pelos pesquisadores.

A instituição instalou experimentos de pesquisa em várias micro-regiões do Estado. Cada módulo demonstrativo era composto de uma área irrigada ( 2 a 4 hectares de fruteiras – banana, mamão, goiaba, graviola e maracujá), apicultura, sequeiro (capim buffel) e caprinos (10 matrizes e um reprodutor). Após três anos de instalação dos módulos, eram feitas avaliações. A área de sequeiro mostrou-se ineficiente. A única área de sequeiro que mostrou bom rendimento para o produtor foi o plantio de abacaxi na região de Touros. O abacaxi foi testado na área do Sr. José Joventino. Até hoje aquele produtor ainda cultiva o abacaxi com sucesso. Na região de Touros já havia uma experiência de um produtor oriundo da região de Sapé – PB. Na época a região plantava apenas 180 hectares de abacaxi, bem diferente de hoje, cuja área, incluindo os municípios de Ielmo Marinho, Pureza e Touros, já se aproxima de 3000 hectares. Nas áreas de sequeiro com capim buffel e algaroba não houve registro de nenhum caso de sucesso. A apicultura foi regular e o destaque ficou por conta das áreas irrigadas, nas quais o produtor conseguia excelentes rendimentos. Um destes exemplos de sucesso foi o plantio de bananeira em consórcio com tomate. Uma das culturas que, também, mostrou excelente rendimento foi mamão formosa. A cultura que se mostrou mais rentável para o produtor foi a banana, seguida de goiaba, graviola, mamão e maracujá. O sistema de irrigação utilizado era o xique-xique (mangueira de polietileno com furos e vazão de 45 – 50 litros/hora).
O sucesso obtido nos experimentos da nossa universidade com a cultura do mamão, é, em parte, responsável pelo incremento no cultivo desta fruta nos últimos anos no Estado do RN e regiões circunvizinhas. Somente na região da Chapada do Apodi (Baraúna, Quixeré e Limoeiro do Norte), local onde havia um experimento montado pela universidade, já são cultivados, cerca de 1600 hectares de mamão formosa. Um dos principais produtores do mamão nesta região é o engenheiro agrônomo formado pela nossa universidade e que na época era o técnico executor das pesquisas nos módulos instalados Wilson Galdino de Andrade. Além disso, na região Agreste já se instalalaram, nos últimos cinco anos, três conceituadas empresas produtoras de mamão papaia (Caliman, Gaia e Batia) cuja produção de mamão é predominantemente exportada pelo Porto de Natal para a Europa e Estados Unidos. A agroindústria Caliman já está instalada, também, na região de Baraúna, com infra-estrutura para exportar mamão formosa para a Europa com boas perspectivas de atingir o mercado americano em curto prazo. O mamão formosa produzido na região de Baraúna possui qualidade superior.
No caso da banana, os Agropólos Mossoró-Açu e Chapada do Apodi (Baraúna, Quixeré e Limoeiro do Norte) possuem uma área instalada acima de 5000 hectares, sendo que no Baixo-Açu predomina o cultivo de banana para o mercado externo (Mercosul e Europa) e na Chapada do Apodi o cultivo da banana é direcionado para o mercado interno. Somente numa agroindústria (Frutacor) instalada naquela micro-região são produzidos 1200 hectares e mais 600 hectares são oriundos de pequenos produtores agregados.
As outras fruteiras (goiaba e maracujá), como demonstrado nas pesquisas feitas pela universidade, ainda não possuem significado econômico nos Agropólos Mossoró-Açu e circunvizinhos. Apenas uma agroindústria (Fazenda Frota) instalada em Quixeré cultiva uma pequena área com Goiaba. Este fruto é muito tradicional na região de Petrolina, mas os pomares instalados naquela região têm sido dizimados por nematóides.
O maracujazeiro amarelo foi plantado em grande escala, no final da década de 80 pela MAISA, mas devido ã alta incidência de pragas, principalmente fusariose, a empresa foi obrigada a erradicar a cultura. No Estado do Rio Grande do Norte o maracujá está sendo cultivado em pequena escala na região de Ceará Mirim e em algumas micro-regiões serranas. O maracujá consumido no Estado é oriundo do Espírito Santo e do Ceará (Serra de Tianguá).
A graviola ainda é pouco cultivada na região. Há poucos plantios na micro-região de Baraúna e Quixeré. O cultivo é direcionado para a produção de polpa para atender o mercado regional.

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