quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O SEMI-ÁRIDO CONTNUA O MESMO

O SEMI-ÁRIDO CONTINUA O MESMO I
Recentemente tivemos a oportunidade de percorrer cerca de 2200 km do Rio Grande do Norte até a Bahia, dos quais 1500 km atravessando o Semi-árido do Nordeste. Fizemos o trecho Mossoró-Salvador-Mossoró, utilizando, na saída a Rodovia BR 405 -trecho Mossoró-Cajazeiras e em seguida, o trecho Cajazeiras-Salgueiro, passando pelo município cearense de Barro. Os dois trechos juntos perfazem uma distância de 460 km. A partir de Salgueiro, seguimos até o Rio São Francisco, na divisa de Pernambuco (município de Salgueiro) com a Bahia (município de Ibó), num trecho de 70 km. A passagem pelo Rio São Francisco foi apenas um dos muitos exemplos de que o Semi-Árido continua o mesmo. Há as pilastras de uma ponte que, segundo as informações da comunidade, a obra foi iniciada no Governo FHC e nunca mais recebeu a atenção dos homens públicos da região e nem do Governo Federal. São centenas de veículos que usam o sistema de balsas, em substituição a uma ponte que, quem sabe, um dia será concluída. No total funcionam quatro balsas transportando, predominantemente, de um lado para o outro do Rio São Francisco, caminhões e carretas carregadas das mais diferentes riquezas do Nordeste para o resto do país. Em média, um veículo a cada minuto atravessa o Rio São Francisco naquele trecho, usando as balsas. Para cada veículo cobra-se entre dez e 80 reais dependendo do tamanho e do peso. Estima-se que cada balsa que funciona naquela passagem do Rio tenha um faturamento líquido diário acima de três mil reais. As balsas funcionam durante 24 h, mas a comunidade local não recomenda o fluxo de veículos durante a noite devido a um trecho de 9 km, onde há apenas sinais de que um dia a estrada foi asfaltada. Nessa faixa, os veículos trafegam a velocidades abaixo de 20 km/h, o que facilita os assaltos. Tudo isto, representa um forte exemplo da falta de responsabilidade dos homens públicos com o Semi-árido.

O SEMI-ÁRIDO CONTINUA O MESMO III
No trecho de Mossoró até Ibó não há sinais de empreendimentos de agricultura irrigada em nenhuma micro-região. Mesmo no trecho beneficiado pela barragem de Santa Cruz (Felipe Guerra e Apodi) a água não está servindo para os propósitos do projeto. O trecho compreendido entre Mossoró e Ibó é, praticamente, paralelo ao Canal da Transposição do Rio São Francisco e às principais bacias hidrográficas a serem beneficiadas (Piranhas-Açu, Apodi-Mossoró e Jaguaribe). Aqueles que, ao longo da discussão sobre a viabilidade da Transposição, se colocaram contra o projeto, precisam conhecer em mais detalhes as condições do Semi-árido de Mossoró até Ibó. Há inúmeros afluentes e rios que simplesmente estão secos, sem qualquer sinal de vida. Acreditamos que estas pessoas mudarão de opinião após transcorrem estes 510 km de Semi-árido.

O SEMI-ÁRIDO CONTINUA O MESMO IV
A partir de Ibó, seguimos pela BR 323 até Euclides da Cunha, numa distância de 230 km. Esse trecho da estrada é mais um forte exemplo do abandono do Semi-árido. O território do Semi-árido nesta faixa é deserto, como também é deserta a Rodovia. As poucas casas rurais que existem na região são instaladas em péssimas condições, sem qualquer sustentabilidade social e econômica para os habitantes que ainda resistem a estes distúrbios de cidadania. O rebanho de caprinos e ovinos aparenta ser pequeno e o rebanho de bovinos é ainda menor.

O SEMI-ÁRIDO CONTINUA O MESMO V
O que mais se vê de Mossoró até Euclides da Cunha nos quintais das residências rurais são cisternas construídas com recursos do Programa 1 Milhão de Cisternas, liderado pela ASA (Articulação do Semi-árido). Isto representa mais um exemplo da viabilidade da construção do Canal da Transposição. Seria a erradicação do caminhão pipa do Semi-árido nordestino.

REGIÃO DE FEIRA DE SANTANA
A partir de Euclides da Cunha inicia-se uma região de transição entre o Semi-árido e o Agreste baiano, com predominância do clima sub-úmido (848 mm anuais de precipitação média) na Região de Feira de Santana. É uma região caracterizada por grandes rebanhos bovinos, belíssimos exemplares da raça nelore e fazendas bem estruturadas. O município de Feira de Santana é próspero, organizado, limpo e há fortes sinais de que aquele município será, a médio prazo, o mais desenvolvido do interior do Nordeste. O acesso a Salvador é feito por uma excelente rodovia dupla, bem diferente da nossa BR 304 que já pode ser considerada como a estrada da morte. A Bahia possui quatro universidades estaduais, sendo que uma delas, a UEFS, está sediada em Feira de Santana.

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