sábado, 7 de março de 2009

FRUTAS DO CEARÁ

FRUTAS DO CEARÁ

O Ceará tem vocação natural para o agronegócio da fruticultura irrigada. Além do clima — com sol praticamente o ano todo —, o Estado já domina know-how de produção e possui reserva hídrica capaz de suportar o aumento da área plantada. Um hectare cultivado sob irrigação tecnificada, com visão de negócio, gera por ano, em média, 27 toneladas de alimentos e R$ 15 mil de renda bruta, contra três toneladas e R$ 700,00 na agricultura de sequeiro. “Com todo o apoio que tem sido dado pelo Governo do Estado, a fruticultura configura-se como um segmento de maior pujança na economia local”, afirma Jorge Parente, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/CE e representante do setor do agronegócio no Conselho de Desenvolvimento Econômico do Estado (Cede).Algumas medidas recentes trouxeram grande impacto para o segmento, como a redução da alíquota do Imposto sobre Mercadorias e Serviços (ICMS), a licitação para início das obras de ampliação do Porto do Pecém e a conclusão das demais fases do Canal da Integração. “Isto estimula os empresários a avançarem numa atividade extremamente competitiva”, diz.Ainda faltam alguns entraves a serem superados: avançar na diversificação das frutas produzidas —, incluindo culturas de alto valor agregado —, ampliar os países de destino (hoje concentrados na Holanda, Reino Unido e Espanha), melhorar a logística de exportação aérea e ampliar as linhas marítimas. “Em breve, vamos poder ampliar as exportações de mamão, com a construção de um aeroporto de cargas no Pecém”.Parente defende também a aproximação do setor com as instituições de pesquisa. “Podemos buscar recursos da Finep e da Funcap para a área de inovação tecnológica no agronegócio, desenvolvendo variedades genéticas de plantas mais compatíveis com nossas áreas”.
1 Uva diversifica agricultura no Centro-Sul do Estado. O município de Iguatu é pioneiro no plantio de uva / Grapes diversify agriculture in southern Ceará. The town of Iguatu pioneered grape production / Weintrauben diversifizieren die Landwirtschaft im Zentrum Süd des Bundesstaates / Die Kommune Iguatu ist Pionär beim Anbau von Weintrauben FOTOS/PHOTOS: HONÓRIO BARBOSA 2 Exportações de manga ocorrem em maior expressão nos meses de agosto a dezembro / Mango exports are most active from August to December / Der Export von Mango war am Höchsten in den Monaten August bis Dezember FOTOS/PHOTOS: CID BARBOSA 3 Produção de figo se concentra na Chapada do Apodi, onde começou esta atividade em 2006 / Fig production is concentrated on the Apodi Plateau, where the activity started in 2006 / Die Produktion von Feigen konzentriert sich in der Chapada do Apodi, diese begann dort in 2006 FOTOS/PHOTOS: MELQUÍADES JUNIOR 4 Goiaba: atividade vem crescendo em várias regiões do Estado nos últimos anos / Guava: production has been growing in several regions of the State over the last few years / Guaven: in den letzten Jahren steigt die Aktivität in verschieden Regionen des Bundesstaates anFOTOS/PHOTOS: NATÉRCIA ROCHA 5 Banana ocupa maior área plantada no Centro-Sul do Estado / Banana occupies the largest plantation area in the southern region of the State / Mit Banane wurde das grösste Gebiet im Zentrum Süd des Bundeslandes bepflanzt FOTOS/PHOTOS: HONÓRIO BARBOSA 6 As plantações do abacaxi apresentaram o melhor resultado em Limoeiro do Norte / Pineapple crops had the best results in Limoeiro do Norte / Die Pflanzungen von Ananas zeigen das beste Resultat in Limoeiro do Norte FOTOS/PHOTOS: J. LUÍS 7 Cultivo de acerola está associado à fabricação de polpas, concentrados e pó da fruta / Acerola growing is associated with the production of pulp, concentrates and fruit powder / Der Anbau von Acerola wird mit der Herstellung von Fruchtfleisch, Konzentrat und Fruchtpulver verbunden FOTOS/PHOTOS: ANTÔNIO VICELMO 8 Melão é o líder nas exportações do Ceará / Melon is the leading export from Ceará / Melone führt die Exporte in Ceará an FOTOS/PHOTOS: SILVANA TARELHO 9 Tecnologia garante até melancia sem semente / Seedless watermelon made possible by technology / Technologie garantiert sogar Wassermelone ohne Kerne FOTOS/PHOTOS: J. LUÍS

O Ceará deve continuar apostando na agricultura de sequeiro ou investir em lavouras mais rentáveis, como a fruticultura? Pela análise da tendência de evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) de frutas e grãos, no Estado, no período de 1970 a 2008, constata-se uma acentuada redução (70%) no rendimento financeiro das culturas tradicionais, mantendo-se relativamente estável o valor da produção de frutas, que movimentou R$ 726,2 milhões.O valor médio da produção de grãos passou de R$ 1,9 bilhão, no período 1970-74, para R$ 569 milhões, no intervalo 2005-2008 — uma redução de 70%, conforme estudo elaborado pelo economista Demartone Coelho Botelho, representante da Universidade Federal do Ceará (UFC) no Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias (GCEA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Conforme o economista, no referido período, o VBP do algodão declinou em 99%, o do amendoim, em 77%.Já o arroz e o feijão registraram perdas de 49% e 25%, respectivamente. Outro declínio acentuado foi o da mamona, com 92%, ao passo em que o milho teve perda de apenas 5%.“Este fato decorreu em função da redução na produção de algodão (-98%) e na queda do preço de no arroz (-60%), no feijão (-47%) e no milho (-54%)”, explica. Enquanto isso, no intervalo de 1970 a 2008, o VBP médio de frutas registrou queda de apenas 8,7%, totalizando R$ 726,2 milhões no ano passado.“Tomando-se a participação do VBP frutas/VBP grãos, constata-se que o VBP de frutas saltou de 47%, entre 1970-1974, para 65%, nos anos de 2000 a 2004, e para 131%, entre 2005 e 2008”, comenta o técnico. Para Demartone Botelho, os números mostram que a fruticultura representa uma alternativa importante para o desenvolvimento da agropecuária do Estado.
Financiamento e apoio técnico têm sido os fatores de impulso da fruticultura no Ceará. O crescimento da produção deste ramo do agronegócio tem acompanhado o incremento no volume de recursos desembolsados e a diversificação de projetos de apoio. Pelo Banco do Nordeste (BNB), por exemplo, os valores contratados pelos produtores cearenses de frutas cresceram 162,6% nos últimos seis anos. Neste período, as contratações somam R$ 109,9 milhões. Em 2003, no Estado, foram injetados cerca de R$ 10 milhões no setor, via BNB, com 1.642 operações. A cifra passou para R$ 26,5 milhões em 2008, com 3.023 operações. Entre os dois últimos anos, o aumento foi de 21,5%, sendo contratados R$ 21,8 milhões em 2007 em 2.910 operações. As principais culturas financiadas pelo BNB, no Estado, são caju (cuja produção recebeu R$ 9,6 milhões em 2008), banana (R$ 6,8 milhões), maracujá (R$ 3,9 milhões), mamão (R$ 1,7 milhão) e goiaba (R$ 875 mil). Segundo o gerente executivo de desenvolvimento territorial do banco, Airton Silveira, além do financiamento da fruticultura, o banco investe a fundo perdido em pesquisas, eventos, centrais de comercialização. “É preciso criar um ambiente com condições para receber um financiamento sustentável”.Projetos de apoioNesta linha, o Sebrae-CE tem sido um parceiro dos produtores. Segundo o gestor de Agronegócio do órgão, Vandi Gadelha, os projetos para a fruticultura consistem em capacitação, intermediação de negociações em feiras e missões, consultoria tecnológica e gerencial. “São mais de 1.000 produtores atendidos”, diz. Outro recurso para apoiar o setor tem sido o estímulo à agroindustrialização, como: castanha de caju, cajuína, sucos, polpas congeladas, fabricação de doces e rapaduras etc. como forma de agregar valor aos produtos.
A futicultura irrigada cearense conta com área total de 37 mil hectares, gerando hoje cerca de 21 mil empregos diretos. A safra 2007/2008 — concentrada nos seis agropólos Jaguaribe-Litoral Leste, Acaraú, Metropolitano, Cariri, Ibiapaba e Centro Sul — gerou um valor bruto da produção (VBP) em torno de R$ 726 milhões. Com o total aproveitamento das áreas disponíveis para o plantio, a atividade pode responder pela criação de até 100 mil ocupações.“Os pomares estão entre as ocupações agrícolas que mais geram empregos e, por conseguinte, movimentam a economia no campo e nas cidades do Interior”, afirma Euvaldo Bringel Olinda, presidente do Instituto Frutal. Ele também produz graviola para o mercado interno.Jorge Parente, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/CE e representante do setor de Agronegócio no Conselho de Desenvolvimento Econômico do Estado (Cede), afirma que a fruticultura é importante, do ponto de vista social, porque mantém o trabalhador e sua família no meio rural. “Assim, reduzimos a violência nos grandes centros urbanos, estimulamos a criação de empregos não agrícolas, via incremento da renda das pessoas, e diminuímos também as demandas por infra-estrutura nas metrópoles”, argumenta.De acordo com Francisco Zuza de Oliveira, diretor de Agronegócios da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), os resultados atuais da fruticultura já indicam que é preciso apostar e agir proativamente em apoio ao setor. Isto significa pensar em mais estradas, comunicação nos agropólos, energia, água, pesquisa, estrutura portuária, incentivos fiscais e tributários, atração de novas empresas e técnicos especialistas em produção irrigada.“Assim, teremos mais riqueza e empregos no Interior, reduzindo a flutuação negativa da renda agrícola no campo, ocorrida nos anos de seca”, comenta.

As frutas cearenses têm como principais portões de saída do Estado os portos do Pecém e do Mucuripe, rumo ao mercado externo. O Terminal Portuário do Pecém consolida-se como o maior exportador de frutas do País em 2008, quando registrou 33.450 TEUs (medida equivalente a um contêiner de 20 pés de volume). Este desempenho, embora represente uma redução de 6% em relação ao ano anterior, mantém o equipamento na liderança entre os portos exportadores de frutas pelo quinto ano consecutivo.Em 2007, o terminal enviou 327.968 toneladas de frutas, cascas de cítricos e de melões, o equivalente a 40% das exportações por outros 16 portos brasileiros. O de Salvador (BA), que ficou em segundo lugar, exportou 105.617 toneladas. Já o Porto do Mucuripe, em Fortaleza, registrou a movimentação de 42 mil toneladas em 2008, o que significa um crescimento de 37% em relação a 2007 (31 mil t.) As principais frutas exportadas pelo terminal foram banana (5.880 t), manga (9.260 t), melancia (3.326 t), melão (15.595 t).Segundo a Companhia Docas do Ceará, um dos fatores importantes que possibilitaram o incremento foi a aquisição de 60 novas tomadas frigoríficas, em 2008. Hoje, o Porto conta com 240 tomadas. Segundo o diretor presidente da Docas, Sérgio Novais, as expectativas para o futuro são boas, pois o terminal vai receber mais de R$ 60 milhões em investimentos.Entre as principais obras, destaca-se a dragagem que vai aumentar a profundidade do porto para 14 metros, possibilitando receber navios de grande porte, com até 100 mil toneladas.
Terras a baixo custo, mão-de-obra em abundância, posição geográfica privilegiada e clima ideal. Estas são as vantagens competitivas do Ceará no agronegócio da fruticultura. “A posição geográfica do estado e o clima do Ceará são bastante favoráveis. O sol é o nossa maior cultivador de frutos”, destaca Eduardo Bezerra, superintendente do Centro Internacional de Negócios (CIN/CE), da Federação das Indústrias (Fiec).De acordo com dados do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), o Ceará possui pelo menos 20 mil hectares de áreas irrigáveis disponíveis para exploração e não utilizadas. Isso representa 70% de solos em desuso, nos principais perímetros implantados, nos últimos anos — Baixo Acaraú, Tabuleiro de Russas, Jaguaribe-Apodi e Araras Norte.Em áreas irrigadas, como os perímetros Jaguaribe-Apodi e Tabuleiro de Russas, é possível obter até duas safras e meia por ano. E a maior parte das frutas pode ser produzida o ano todo. Com a disponibilidade de sol praticamente os 365 dias, as frutas tropicais ganham mais sabor.PolíticaNa avaliação de Euvaldo Bringel Olinda, presidente do Instituto Frutal, o Governo cearense está priorizando a fruticultura. “Com acompanhamento da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), presidida por Antônio Balhmann, o governo tem solucionando os principais problemas, melhorando a infra-estrutura ligada a produção e atendendo às reivindicações da Câmara de Fruticultura”, argumenta.O procedimento do poder público estadual tem dado confiança aos investidores. De acordo com Marcelo Gadelha, sócio-proprietário da empresa Nolem — maior exportadora de melões do País —, o Governo cearense vem, por exemplo, se empenhado para pagar em dia os créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devidos aos exportadores.
A Fruit Logística é a mais importante feira do setor frutícola mundial, que acontece de hoje a sexta-feira. É uma oportunidade de realizar negócios com a presença de empresas interessadas em importar, exportar e estabelecer parcerias no setor de frutas. Também participam empresas dos setores de embalagem, armazenagem, transporte, soluções tecnológicas, etc. Nesta edição, a feira está maior, em relação a do ano passado. São esperados mais de 50 mil visitantes de 125 países. Cerca de 2.200 empresas de 79 países vão expor seus produtos. Na edição anterior, foram 2.115 empresas de 68 países. A área ocupada também cresceu, em torno de 10%, passando de 81 mil metros quadrados para 88 mil m².Expositores de Gambia, Guiné, Camarões, Croácia, Líbano e Uzbequistão participam do evento pela primeira vez. Os maiores participantes são da Europa — como Itália, Espanha, Alemanha, França e a Holanda liderando a lista. Chile é o país parceiro oficial da edição deste ano, que acontece em Berlim, Alemanha, pela 17ª vez desde 1993.Cerca de 60 empresas brasileiras vão representar o País em um estande de 351 m², com um projeto feito para adequar as necessidades dos expositores às expectativas do mercado internacional. Neste local, são destacados os atributos de mais de 30 tipos de frutas brasileiras. Entre os produtores do Ceará, estão a Salute, Itaueira Agropecuária, Nolem e Agrícola Famosa. A Itaueira, por exemplo, busca no evento mostrar inovações em termos de qualidade. A empresa recebeu a certificação PIF (Produção Integrada de Frutas), que atesta produtos prontos ao consumo. Ela prevê para 2009 aumentar em 30% a oferta de melões. Na Europa, as frutas vão para Holanda, Itália, Espanha e Inglaterra.

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