segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Animais usados na produção de leguminosas no Cariri

30/08/2010 – Diário do Nordeste

Crato. Os animais abandonados e recolhidos ao Centro de Zoonoses do Crato são utilizados como laboratórios para a produção de mudas de algaroba, uma leguminosa de alto valor nutritivo e bem adaptada ao solo seco do semiárido nordestino. Os animais, jumentos, burros e cavalos, são alimentados com esta ração. No aparelho digestivo do animal, a semente da planta passa por um processo chamado de "quebra de dormência" que, segundo o agrônomo William Brito, facilita a germinação.

Wiliam explica que na passagem pelo aparelho digestivo do animal, a semente sofre alteração de temperatura que contribui para aumentar o seu poder germinativo. "É necessário quebrar a dormência das sementes antes da semeadura, para que se obtenha uma germinação mais regular e uniforme. O animal executa este processo automaticamente pelo metabolismo", complementa.

A semente é expelida pelo animal, junto com o esterco. Após 15 dias, o esterco com as sementes são levadas do Centro de Zoonoses para o Campo de Produção de Mudas da Prefeitura que funciona ao lado do escritório do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Ali, são plantadas as mudas e distribuídas com a população para reflorestamento. O acompanhamento é feito pelo técnico agrícola Renato Bacurau, administrador da produção de mudas. Brito explica que a quebra de dormência pode ser feita pela escarificação química mecânica e choque de temperatura.

Métodos

O método químico é feito geralmente com ácidos sulfúrico e clorídrico. O choque de temperatura consiste na alternância de temperaturas, variando em aproximadamente 20ºC, em períodos de 8 a 12 horas. A água quente é utilizada em sementes que apresentam impermeabilidade do tegumento e consiste em imersão das sementes em água na temperatura de 76 a 100ºC, com um tempo de tratamento específico para cada espécie. No caso da utilização do animal, a vantagem é que a ração o alimenta e que, por sua vez, quebra a dormência da semente. O esterco é transformado em adubo para as mudas.

Alternativa

A algaroba desponta como excelente alternativa econômica, social, ambiental, política e cultural para a região, com forte potencial para exploração da cadeia produtiva que engloba três vertentes: florestal (energia limpa, carvão vegetal), ração animal (farelo) e alimentação humana (farinha e goma). As cerâmicas do Cariri, pro exemplo, estão importando algaroba de Pernambuco para a queima de tijolos e telhas.

O agrônomo William Brito orienta que a algaroba não deve ser utilizada por muito tempo. O uso prolongado desse tipo de alimento provoca uma doença neurológica no gado. O animal perde a coordenação motora, a flexibilidade da língua que fica do lado de fora da boca e termina morrendo.

Advertência

Ao fazer a advertência, o agrônomo diz que já perdeu várias rezes que eram alimentadas com ração da algaroba. Ele recomenda que a ração seja usada por um curo período e, se possível, intercalada com outro tipo de nutriente. Wiliam afirma que os efeitos negativos, como por exemplo sua capacidade de funcionar como planta invasora, deve ser encarada como elemento secundário, tendo em vista que o mesmo pode ser controlado e orientado pela assistência técnica dos governos municipais e dos Estados. Porém, a algaroba tem status de "praga" do sertão. A planta é tão bem adaptada a região semiárida.

Fique por dentro
Processos

A dormência de sementes é um processo caracterizado pelo atraso da germinação, quando as sementes mesmo em condições favoráveis (umidade, temperatura, luz e oxigênio) não germinam. Cerca de dois terços das espécies arbóreas, possuem algum tipo de dormência, cujo fenômeno é comum tanto em espécies de clima temperado (regiões frias), quanto em plantas de clima tropical e subtropical (regiões quentes). O fenômeno de dormência em sementes advém de uma adaptação da espécie os condições ambientais que ela se reproduz, podendo ser de muita ou pouca umidade, incidência direta de luz, baixa temperatura etc. É portanto um recurso utilizado pelos plantas para germinarem no estação mais propícia ao seu desenvolvimento, buscando a perpetuação da espécie.

MAIS INFORMAÇÕES
Centro de Zoonoses
Avenida Thomaz Osterne, S/N
Crato-CE
(88) 3521.2698

Antônio Vicelmo
Repórter

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