segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tribuna do Norte: Os caminhos do semiárido

 17/04/2011

Se compararmos o desenvolvimento e a evolução de uma universidade com as fases da vida de um ser humano, podemos dizer que a Universidade Federal Rural do Semi-árido (Ufersa) é ainda uma criança. Universidades na Europa têm centenas de anos. No Rio Grande do Norte, a UFRN já conta com mais de 50 anos de história. Com apenas seis anos de existência enquanto instituição federal, a Ufersa dá os primeiros passos para se transformar em uma instituição de grande porte. Contudo, a despeito da pouca idade, a instituição já conta com o reconhecimento da sociedade como um ator fundamental no desenvolvimento  do Semi-árido. 

Melão, caprinos, goiaba, petróleo, energias renováveis. As pesquisas da Ufersa têm uma forte ligação com as cadeias produtivas de cidades como Mossoró, Baraúna,  Pau dos Ferros, Upanema, Açu, entre outras do semi-árido potiguar, constituindo, na opinião do reitor Josivan Barbosa, um importante vetor de desenvolvimento para o interior do Rio Grande do Norte. Essa relação com as atividades da fruticultura, pecuária, além de petróleo e gás e mineração, é um dos diferenciais da instituição, nascida a partir da Escola Superior de Agricultura de  Mossoró (ESAM), no ano de 2005.

A criação da ESAM por sua vez data do fim da década de 60. O perfil voltado desde aquela época para a agricultura e pecuária teve poucas alterações, com a inclusão de linhas de pesquisa em petróleo e gás, energias renováveis, tecnologia da informação, entre outras áreas. Mesmo assim, o vínculo com a agropecuária, e todas as questões relativas a esse universo, é inegavelmente o mais forte. “As pesquisas com fruticultura iniciaram-se no início da década de 80. Naquela época os pesquisadores da ESAM criaram unidades demonstrativas de fruteiras nas micro-regiões de Pau dos Ferros, Mossoró, Governador Dix-Sept Rosado, entre outros. Atualmente, a Ufersa possui parceria com os produtores de frutas tropicais de, praticamente, toda a região, com destaque para as culturas do melão, melancia, caju, banana, mamão, abacaxi, uva, entre outras fruteiras”, explica o reitor Josivan Barbosa.

No que diz respeito às pesquisas em fruticultura, uma das principais características é a ligação com as empresas de agronegócio e associações de produtores. O Sindicato da Fruta do RN, a Agrícola Famosa, maior empresa produtora de frutos tropicais da região Oeste, além de pequenos, médios e grandes produtores de frutas são alguns dos parceiros. Associações de criadores de cabras, ovelhas e abelhas, além de associações de pescadores, também entram nesse universo. As atividades de pesquisa dos professores normalmente são voltadas para a resolução de gargalos e entraves técnicos desses setores.

A estrutura de pesquisa para desenvolver todo esse trabalho conta com 40 grupos e 11 cursos de pós-graduação, sendo dois doutorados e nove mestrados. Somente no ano passado, a Ufersa conseguiu aprovar três cursos de mestrado e um doutorado. A estrutura de pesquisa cresceu desde 2004, quando ainda era apenas ESAM, cerca de 15 vezes. Há aproximadamente 400 professores no quadro e a perspectiva é de aumento desse efetivo com novos concursos a serem pedidos ainda esse ano para os campi de Caraúbas e de Mossoró.

O fato de ser uma instituição nova dificulta a captação de recursos nas agências financiadoras do Governo Federal, tendo em vista que a quantidade de trabalhos publicados e o prestígio da universidade e grupos de pesquisa contam bastante durante essa captação. Contudo, apenas em 2011 já foram captados R$ 2 milhões a partir da Finep. Mesmo com os cortes operados no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, a Universidade espera, segundo o reitor Josivan Barbosa, obter financiamento para novos projetos e laboratórios de ensino e pesquisa.

Uma das pesquisas desenvolvidas por professores da Ufersa na área da fruticultura é o melhoramento genético de híbridos de melão. O trabalho é realizado pelo pesquisador Glauber Nunes e uma equipe de mais 10 professores desde 2001. Como se trata de uma área de forte interesse econômico para a cidade de Mossoró e arredores, existem parcerias com empresas de agropecuária locais, além de financiamento público. O interesse de todos os envolvidos é conseguir produzir melões mais atrativos para o mercado de frutas.

Trata-se de um trabalho firmado na idéia de inovação tecnológica. A expectativa é de obter um produto de maior valor agregado. No caso do melão especificamente, os pesquisadores tentam produzir uma fruta mais doce, mais resistente a doenças e pragas e mais produtiva através do cruzamento de linhagens da planta para a obtenção de um “híbrido”. “Um melão híbrido é aquele obtido a partir de duas linhagens distintas. Há uma vantagem nos híbridos. Eles têm mais vigor, são mais produtivos que as linhagens puras”, explica o professor Glauber Nunes.

Por conta das especificidades das pesquisas com melhoramento genético, o grupo ainda não conseguiu produzir um híbrido com as características procuradas, embora existam resultados animadores. “Uma pesquisa como essa tem resultados a longo prazo. São pesquisas que duram 15 ou 20 anos. A nossa precisa de mais uns cinco anos para chegar aos resultados desejados”, diz Glauber, acrescentando que já existem linhagens melhoradas em fase de teste.

Além das empresas de agropecuária da região, a pesquisa com melhoramento genético do melão tem a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Universidade Estadual da Bahia como parceiras. Nos 10 anos de pesquisa, o grupo conseguiu captar cerca de R$ 300 mil em agências financiadores, um valor considerado relativamente pequeno em comparação com os benefícios conseguidos. “Tem sido uma pesquisa barata e além disso serve para outros produtos, como melancia, por exemplo”, encerra o professor Glauber Nunes.

Q Josivan Barbosa, Reitor da Ufersa

Qual a estrutura disponível na Ufersa hoje em termos de pesquisa?

Os pesquisadores da UFERSA aprovam bons projetos nas principais agências de financiamento à pesquisa científica do país (Embrapa, CNPq, Finep, CAPES, BNB-ETENE-Fundeci, Petrobrás, entre outros) e, aos poucos, começam a participar de convênios com outros países. Apenas a título de exemplo, em 2004 a Ufersa tinha apenas 1 bolsista produtividade em pesquisa do CNPq, a elite da pesquisa científica nacional, hoje ela tem 15 pesquisadores nesta situação. Podemos, assim, dizer que a Ufersa aumentou em 15 vezes a sua competência na produção do conhecimento.

As pesquisas desenvolvidas até agora estão relacionadas com que questões do semiárido?

Os cursos de graduação e de pós-graduação da Universidade do Semi-Árido estão em sintonia com as principais cadeias produtivas da região, ou seja, Petróleo, gás natural e energia renovável, indústria do calcário, agronegócio e indústria do sal. Conseqüentemente, os docentes atuam desenvolvendo atividades de desenvolvimento tecnológico voltadas para os gargalos destes setores.

Existe uma aproximação com a iniciativa privada no intuito de fomentar a inovação tecnológica? Com que empresas?

Na área do Agronegócio a UFERSA possui parceria com o COEX (Comitê Fitossanitário do RN) e com o Sindicato da Fruta do RN, além de pequenos produtores, médios produtores e grandes produtores, como é o caso da Agrícola Famosa, a maior empresa produtora de frutos tropicais da nossa região.

Os trabalhos de desenvolvimento tecnológico da UFERSA são desenvolvidos nas micro-regiões de Pau Branco (Mossoró), Baraúna, Quixeré, Limoeiro do Norte, Upanema, Baixo-Açu e Apodi. A UFERSA desenvolve pesquisa de ponta na área de apicultura com diversas associações, o mesmo acontece com a caprinovinocultura.

Aos poucos, a UFERSA incrementa as pesquisas no setor de petróleo, gás natural e energia renovável. Há, também, uma série de pesquisas voltadas para a área de tecnologia da informação e da comunicação e também uma forte demanda por pesquisas na área de meio ambiente.

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