quinta-feira, 16 de outubro de 2008

ENTREVISTA NO JORNAL TRIBUNA DO OESTE

ENTREVISTANDO...
Josivan Barbosa Por ISAIAS GARCIA
Foto MARCOS GARCIA
Quais as dificuldades enfrentadas
para transformar em Universidade
a Escola Superior de Agricultura
de Mossoró?
O projeto de transformação da ESAM
em UFERSA já contava com 13
anos de debate dentro da instituição
e nos gabinetes do Ministério da Educação.
A principal dificuldade ocorreu
quando o projeto foi reprovado pela
Casa Civil. Neste momento procuramos
a Governadora Wilma Maria de
Faria que prontamente falou com o
ministro José Dirceu e este interferiu
junto ao MEC para que fosse feita uma
nova exposição de motivos para o projeto
de transformação. Este foi, sem
dúvidas, o momento mais complicado
nos 18 meses que lutamos para
transformar a ESAM em UFERSA. No
total, percorremos mais de 30 mil quilômetros
de automóvel e fizemos cerca
de 2 viagens por mês para Brasília.
O que mudou com essa transformação?
A principal mudança veio com a
autonomia da Universidade para a criação
de novos cursos, o que não havia
no caso da ESAM. Sempre que a instituição
queria criar um novo curso
era obrigada a submetê-lo ao aval do
Ministério da Educação. A partir do
momento em que transformamos a
instituição em Universidade iniciamos
um processo corajoso e ousado de ampliação
do número de cursos.
Após passar de Escola para Universidade,
outros cursos foram criados.
Quantos são no total e quais são?
A UFERSA oferece 22 alternativas
de cursos para os jovens do Semi-árido.
Em 2003, quando ainda ESAM
eram oferecidos apenas dois cursos
(Agronomia e Medicina Veterinária).
Na área de Ciências Agrárias oferecemos
além de Agronomia e Medicina
Veterinária, os cursos de Zootecnia,
Engenharia Agrícola e Ambiental e Engenharia
de Pesca. Nas áreas de Engenharia
os jovens poderão optar por Engenharia
de Energia, Engenharia de Petróleo,
Engenharia de Produção, Engenharia
Química e Engenharia Mecânica
ou Engenharia Florestal. A partir
deste ano passamos a oferecer o
curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia
(curso novo e no formado do
projeto Universidade Nova). No Departamento
de Agrotecnologia e Ciências
Sociais oferecemos o curso de administração
e a partir do próximo vestibular
iremos oferecer o curso de Contabilidade.
No Departamento de Ciência
Animal vamos oferecer mais dois
cursos novos: Ecologia e Biotecnologia.
A UFERSA oferece também o curso
de Ciência da Computação.
Está em estudo a implantação de
outros cursos, entre eles Direito. Esse
curso será instalado em breve ou
ainda demora?
A UFERSA como qualquer outra
Universidade deste país não tem autonomia
para criar os cursos de Direito,
Medicina, Odontologia e Psicologia.
Mesmo assim, a nossa instituição
já venceu 4 fases de um total
de 5 para a implantação do curso de
Direito. A última fase é uma visita in
loco de consultores do INEP. Esperamos
sensibilizar o MEC para acelerar
esta fase. Conversei pessoalmente com
o Ministro Fernando Haddad e ele
mostrou-se muito receptivo, mesmo
porque o curso já recebeu o parecer
favorável da OAB Nacional. Não queremos
marcar uma data para início
do curso, porque depende desta fase,
mas nesta semana enviamos um assessor
ao MEC para tratar especialmente
deste problema.
Hoje, existe no Brasil uma proliferação
de cursos de Direito. Essa
constatação é preocupante, ou o senhor
acha normal?
Nós estamos criando um curso de
Direito numa Universidade Federal
que terá condições de contratar os melhores
profissionais da área que têm
vocação pela licenciatura. O curso de
Direito da UFERSA não vai competir
com os demais cursos. Vamos nos
unir com a UERN e complementar
as áreas que são deficientes na nossa
região, como Direito Internacional,
Direito Mineral, Direito Agrário, Direito
Digital, Direito Administrativo
entre outras áreas. Dessa forma as duas
IES poderão, num prazo mais curto,
implantar um curso de mestrado
em Direito, o qual não tem na região
Semi-árida do Rio Grande do Norte e
circunvizinhas.
Quantos professores formam o
corpo docente da Ufersa?
A UFERSA possui no seu quadro
160 docentes, dos quais 128 são efetivos.
Estamos com liberação para contratação
de mais 151 professores nos
próximos meses. Esse número é muito
pequeno se levarmos em consideração
a missão da UFERSA diante do
desenvolvimento do Semi-árido. Mas,
não há uma luta maior para um dirigente
de uma Universidade Federal
do que a disputa pela alocação de vagas
pelo MEC. Pedimos ao ministro
Fernando Haddad uma liberação de
vagas diferencial para o Semi-árido.
Ainda há uma grande resistência para
esta proposta por parte das grandes
IFES, mas acreditamos que vamos
conseguir avançar com esta proposta.
Qual o conceito que a Ufersa detém
hoje?
A UFERSA recebeu o conceito 3
(regular). O conceito foi recebido pela
comunidade acadêmica como normal,
pois a nossa instituição tem apenas
três anos de existência como Universidade.
Esse conceito representa
uma instituição que está em construção
e é essa a nossa realidade. A UFERSA
está construindo os principais equipamentos
necessários para o funcionamento
de uma instituição de ensino
superior de qualidade.
O senhor enfrentou problemas,
durante, e após sua campanha para
reitor da instituição. O que de fato
aconteceu?
A minha posse com reitor da
UFERSA sofreu um atraso em função
de um problema meramente burocrático.
O normal era que a o Decreto
Presidencial de nomeação do
reitor tivesse sido novamente publicado
no Diário Oficial da União e se
estabelecesse uma nova data para a posse
do reitor eleito pelos três segmentos
da Universidade. Infelizmente, a
oposição dentro da UFERSA solicitou
à Justiça Federal que o segundo lugar
da lista fosse conduzido ao primeiro
da lista e retirasse da lista o reitor eleito
pela comunidade. Esse foi mais um
momento triste na história da democracia
interna desta instituição. Com
esta atitude, percebemos que os nossos
colegas opositores têm apenas sede
de poder. As instituições estão mudando.
A cada dia uma pessoa que
tem serviço prestado adquire mais respeito
da comunidade interna. Na
UFERSA isto já é uma realidade. E eu
sinto-me muito orgulhoso de ter contribuído
para este avanço, juntamente
com os dirigentes que me antecederam.
A Ufersa vai implantar um campus
fora de Mossoró, qual a expectativa
do senhor nesse setor de expansão?
A UFERSA Angicos já é uma realidade.
Isto foi assumido pelo ministro
Fernando Haddad na sua visita a
Mossoró. Vamos abrir vestibular no
próximo mês, com a certeza de que
teremos oportunidades para 300 jovens
do Sertão Central ingressar anualmente
numa Universidade Federal de
qualidade. Ao mesmo tempo estamos
tomando todas as providências para
preparar o processo licitatório para a
construção do Campus. A expectativa
é de atender a 32 municípios que
estão na região do Sertão Central e
no entorno. Vamos contratar 60 professores
e 35 servidores técnico-administrativos.
Esperamos que Angicos
tenha duas histórias: uma antes e outra
depois da UFERSA Angicos.
Quanto será investido nesse campus?
O projeto completo de infraestrutura
da UFERSA Angicos está estimado
em 14 milhões de reais, sem contar
com o terreno que está sendo repassado
pelo patrimônio da União
oriundo do Ministério da Educação.
É uma área de 160 hectares localizada
na região urbana da cidade. Esperamos
que a UFERSA Angicos seja um modelo
de Campus universitário para o
resto do Semi-árido.
O Presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva, esteve recentemente
em Mossoró inaugurando a
Ufersa. O que o senhor conversou
com ele, no que se refere a reivindicações?
O pedido que fiz ao presidente está
contido no meu discurso e não poderia
ser outro, senão uma alocação diferencial
de vagas de docentes para o
Semi-árido. Tenho dito que se continuarmos
alocando docentes na mesma
proporção que alocamos para as
regiões ricas (Sudeste e Sul) levaremos
mais 50 anos e a realidade do Semiárido
não mudará. Basta entender que
as três IES públicas do RN juntas já
se aproximam de 140 anos de existência
e mesmo assim, temos muitos municípios
onde o jovem não tem acesso
ao ensino superior público de qualidade,
como exemplo, podemos citar
o município de Angicos, onde apenas
2 jovens para cada 100 têm acesso
ao ensino superior.
A Ufersa enfrenta algum problema
na atualidade?
A UFERSA é uma instituição em
construção e como tal enfrenta inúmeros
problemas. O maior é a infraestrutura
do Campus que está sendo
recuperada e em construção. Mas nenhum
outro problema é maior do que
a falta de docentes para podermos ampliar
a oferta de vagas para os jovens
do Semi-árido.
Algumas criticas surgiram durante
a estada de Lula em Mossoró, entre
elas a de que ele esteve na Ufersa
apenas para inaugurar um muro.
Como o senhor recebeu essa critica?
A imprensa de Mossoró sabe que
há pelo menos 42 obras dentro da
UFERSA concluídas ou em andamento.
A comunidade ufersiana sabe que
em nenhum momento da instituição
avançou-se tanto em tão pouco tempo.
O dirigente que mais construiu
na UFERSA num mandado foi o prof.
Pedro Fernandes Pereira em meados
da década de 80. Nós estamos construindo
pelos menos três vezes mais e
vamos construir mais. Desencadeamos
um processo de busca de recursos que
estava latente e de agora não tem mais
volta. É um processo contínuo e quanto
mais unida estiver a comunidade
acadêmica em torno deste projeto,
mais célere será a elaboração dos projetos
e a liberação dos recursos. Como
gestor, sou apenas um catalisador
do processo, mas os docentes e os técnicos-
administrativos são os grandes
atores para a busca de recursos.
A Ufersa tem algum programa
de assistência ao aluno carente?
A UFERSA tem uma série de programas
de apoio ao discente. O principal
dele é o programa bolsa atividade
criado no início da nossa administração.
Através deste programa o aluno
carente recebe uma bolsa de meio
salário mínimo para as suas despesas
básicas, principalmente alimentação.
Mas o aluno pode ao longo do curso
concorrer a bolsas de monitoria, bolsas
de pesquisa paras pelo CNPq ou
pela própria UFERSA, através de um
programa de iniciação científica institucional
implantado também na nossa
administração. O aluno carente tem
também o apoio da UFERSA no programa
de residência acadêmica e numa
bolsa de auxílio cópias. Há também
outros tipos de bolsas, como a
bolsa de desenvolvimento tecnológico
apoiada pelo CNPq via IEL -
FIERN, entre outras.
Os jornalistas lutam pela exigência
do diploma para profissionais
da área. A Constituição Federal garante
o livre direito de expressão. O
senhor como professor, como analisa
esse movimento dos jornalistas?
Eu defendo que o profissional que
tem qualidade não precisa se preocupar
com os concorrentes. Há muito espaço
no mercado para os bons profissionais.
Por isso que defendemos
que a Universidade forme um profissional
capaz de competir com eficiência
pelos espaços no mercado como
empregado ou como empreendedor.
O atual momento político em
Mossoró é visto como uma verdadeira
batalha jurídica, envolvendo as
primas Larissa e Fafá Rosado. Isso é
bom ou ruim para Mossoró?
A cada dia Mossoró precisa de homens
públicos comprometidos com
o desenvolvimento do município especialmente
das camadas mais desfavorecidas.
Aos poucos acredito que
vamos mudar o quadro atual. Precisamos
lutar por isso. À medida que
avançamos estas questões menores vão
sendo superadas. As brigas judiciais
não trazem avanço. A sociedade precisa
que os homens públicos gastem
o tempo lutando por mais verbas para
melhorar o acesso da população a
direitos básicos como saúde, educação
e segurança. Claro que precisamos resolver
o grande problema de Mossoró:
o desemprego. Para isso precisamos
conhecer o exemplo de algumas cidades
de porte médio do interior paulista
que venceram a luta pela oportunidade
emprego para as mulheres e
para os jovens. A administração municipal
tem tido dificuldade para vencer
esta batalha porque é muito tímida
neste aspecto e é muito tradicional
na aplicação dos recursos da prefeitura.
Ainda sobre política, o senhor
acredita numa renovação na Câmara
Municipal?
A população precisa entender que
elegendo vereadores com pensamento
doméstico a cidade não avança na
velocidade que ela precisa. Para vencer
o problema do desemprego em
Mossoró a Câmara precisa de renovação.
Se isto não acontecer, o povo é o
grande responsável e não pode reclamar
quando a renda da família não é
adequada. Precisamos eleger vereadores
que reivindiquem da prefeita uma
atuação mais pragmática em relação
a inovação da administração municipal.
O senhor tem intenção de se candidatar
a algum cargo eletivo em
2010?
Não tenho nenhuma intenção de
me candidatar a qualquer cargo em
2010. O meu compromisso com a comunidade
acadêmica é administrar
junto com ela a UFERSA nos próximos
quatro anos. Foi esse o compromisso
que assumi e vou cumpri-lo se
Deus nos ajudar. Temos certeza que a
UFERSA será uma outra instituição
em 2012. Vamos prepara a UFERSA
para que os próximos dirigentes façam
pelo menos o que estamos fazendo.
Muito obrigado pela oportunidade de
esclarecer para a sociedade onde estão
sendo usados os recursos oriundos
do contribuinte.
O primeiro reitor da Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA), Josivan Barbosa, fala
sobre a transformação da Esam em Ufersa, assim como trata de assuntos relacionados a expansão da
instituição. Traça um relato sobre o avanço dos cursos de Direito no Brasil, e da qualidade do que será
instalado na Ufersa. Faz um balanço do que mudou com a transformação da escola em universidade,
bem como da luta dos jornalistas em manter a exigência do diploma para o profissional da área. Na
política Josivan Barbosa descarta por completa uma possível intenção de concorrer a qualquer cargo
eletivo.

Nenhum comentário: