sábado, 21 de março de 2009

ÁGUA NO SEMI-ARIDO

Projeto estuda reaproveitamento de água salobra para produção de alimentos


AMANDA MELOamandamelo18@hotmail.com
Hoje é o Dia Mundial da Água, elemento vital para a nossa sobrevivência. Mas, apesar de sua importância, apenas 3% desse recurso finito espalhado em partes desiguais pela superfície terrestre é doce. Desta água doce, apenas um terço, presente em rios, lagos, lençóis freáticos superficiais e na atmosfera é acessível; o restante está concentrado em geleiras, calotas polares e lençóis freáticos profundos.
Embora seja abundante, a quantidade de água no planeta permanece constante, enquanto seu consumo aumenta gradativamente. Esse é apenas um dos motivos que levam estudiosos a procurarem novas formas de reutilização da água salgada. O professor Nildo da Silva Dias, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), desenvolve há oito meses um projeto que tem como principal meta produzir alimentos em comunidades rurais do município com rejeito de água salobra, considerada imprópria para o consumo humano.
Nildo explica que a técnica de dessalinização da água bastante difundida em todo mundo baseia-se na transformação de água salobra proveniente de poços subterrâneos em água potável. "Nas comunidades rurais de Mossoró existem poços, com profundidade entre 100 e 200 metros onde foram instalados dessalinizadores para que a água pudesse ser consumida pelos moradores", revela o professor.
Mas, como explica o pesquisador, apesar desse instrumento promover a retirada de sais da água, durante esse processo de dessalinização - conhecido como osmose reversa - ele acaba produzindo um resíduo chamado rejeito salino ou salmoura. "O nosso projeto pretende reutilizar a água de rejeito gerado pela dessalinização de águas salobras. O dessalinizador produzirá sempre a água potável, mas também rejeito salino, com um potencial de contaminação elevado, quando o seu destino é o solo ou os cursos de água", esclarece Nildo.
De acordo com ele, os impactos ambientais ocasionados pelo descarte desse resíduo no solo ou em rios podem ser graves para o meio ambiente. "Esses resíduos provocam o acúmulo de sais solúveis no solo e podem promover a desertificação total da área. Nos rios, o acúmulo de sais contamina a água e torna seu uso impróprio para a irrigação", frisa o responsável pela pesquisa.
Após alguns testes, o pesquisador constatou que é possível produzir hortaliças com esse resíduo através do processo conhecido como hidroponia. "A hidroponia é o cultivo sem solo, ou seja nós utilizamos a água em substratos, como a fibra de coco, palha de carnaúba ou o pós de serra", revela Nildo. Ele conta que já realizou experimentos com alface, tomate cereja e até melão.
"Nós realizamos os experimentos em estufas, pois evitamos a incidência de pragas e doenças nas plantas e o consumo de água se torna menor", afirma o idealizador da pesquisa. Conforme Nildo, os alimentos produzidos através desse processo possuem um limite de produção à medida que aumenta a concentração de sais presentes na água utilizada para o cultivo.
"Mas se conseguimos produzir, mesmo tendo uma perda de 30 a 35% em relação aos cultivos comuns eu já entendo que é uma grande vantagem, pois estamos evitando a contaminação do solo. É uma relação custo-benefício", comenta o professor. Ele revela ainda que as plantas se utilizam de estratégias fisiológicas para responder ao alto grau de salinidade no cultivo.
"Algumas plantas, como o melão, ficam mais doces. Isso acontece porque devido a dificuldade maior de absorver a água salobra ela aumenta a concentração de açúcar, mas o tamanho da fruta diminui", diz o pesquisador. Ele diz ainda que a técnica para a produção é simples e pode ser adaptada às condições do agricultor. "Por exemplo, no caso dos substratos, cada agricultor pode utilizar os substratos que existem na região", garante Nildo.
Além disso, o pesquisador afirma que o ciclo produtivo das plantas cultivas através desses meios é mais curto. "Eu não posso afirmar que o ciclo foi mais curto só por causa da utilização do resíduo de água salobra, mas também por causa do cultivo hidropônico e do ambiente protegido através da estufa", explica ele.
A pesquisa, apesar de ainda não ter sido concluída, já deu bons resultados, mas o professor ainda irá analisar detalhadamente para começar a aplicar nas comunidades rurais do município.

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