sexta-feira, 13 de março de 2009

FUTEBOL NO SEMI-ÁRIDO

VIROU MAR

Com maior revelação do país no ano, e times lutando por Estaduais, semiárido nordestino entra no mapa da bola Com dinheiro vindo de prefeituras, banda de forró e até de funerária, clubes sertanejos mudam status e agora até almejam títulos
Alexandro Auler - 7.mar.09/JC Imagem
Ciro vibra ao fazer gol no Salgueiro, equipe de sua cidade natalPAULO COBOSDA REPORTAGEM LOCALGUSTAVO ALVES COLABORAÇÃO PARA FOLHA
Na bola, o sertão já virou mar.Com o candidato a maior revelação do país em 2009 e clubes peitando grandes nordestinos, a região em que a pobreza reduzia o futebol a quase nada é hoje destaque no Nordeste.A começar por seu embaixador. O atacante Ciro, 19, artilheiro do Sport na temporada, começou nos juniores do Salgueiro, na cidade do mesmo nome no sertão central de Pernambuco, a 518 km de Recife.Sucesso individual que chega na esteira do êxito coletivo.Antes coadjuvantes ou sacos de pancada nos torneios estaduais nordestinos, os clubes sertanejos mudaram de status.No Rio Grande do Norte, a decisão do primeiro turno foi entre dois clubes do semiárido -o Assu, de Açu, e o Santa Cruz, da cidade do mesmo nome. Em todo o século passado, o futebol potiguar só teve campeões sediados na sua capital, Natal. Nesta década, já são três títulos de equipes sertanejas.O Campeonato Paraibano, antes dominado por clubes do eixo João Pessoa-Campina Grande, agora tem também como protagonistas clubes do alto sertão do Estado, como o Sousa, finalista do primeiro turno em 2009, e o Nacional de Patos, campeão em 2007.O Salgueiro, onde começou Ciro, conseguiu até uma façanha nacional -obteve uma vaga na nova Série C do Brasileiro, o que nem o poderoso Santa Cruz, da capital Recife, fez.No Ceará, o Icasa, de Juazeiro do Norte, vem de um vice- -campeonato estadual. Em Alagoas, o ASA de Arapiraca, imortalizado como sinônimo de time ruim em música de Chico Buarque, ganhou quatro dos últimos nove estaduais -antes, só havia sido campeão em 1953.Em comum, além do clima seco, todos esses times ficam em cidades onde a renda per capita não chega à metade da nacional e o IDH, o índice de desenvolvimento humano, fica bem abaixo da média do país.Indicadores que não impedem as prefeituras locais de investirem nos clubes."A prefeitura municipal arca com 50% das despesas da equipe, que tem folha de pagamento de R$ 50 mil", diz Luis Dailson Macedo, o presidente do Assu.Mais inusitada é a fórmula do Salgueiro para se manter. O clube ganhou fama de bom pagador e repete em 2009 o bom desempenho (só ficou atrás dos grandes do primeiro turno).As despesas são bancadas em partes iguais pela prefeitura, por uma funerária e por uma banda de forró. Assim, paga até R$ 3.500 para alguns atletas.Com o futebol, a cidade também tenta se livrar da fama da "cidade da maconha", ganha pela produção da erva e dos altos índices de criminalidade causados por ela. "Pensamos que o único jeito de mudar isso era pelo futebol. Éramos muito malvistos, mal falados. Fazíamos contato com os jogadores e perguntávamos se queriam jogar aqui. A resposta era sempre "eu não vou não, você está doido?". Agora pagamos bem, e todos querem jogar aqui", diz José Guilherme de Alencar, o presidente do Salgueiro.

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